Numa época bem anterior a chamada globalização, onde as “coisas” modernas custavam a chegar ao Brasil, mais ainda aqui nesta zona de fronteira, eu tive a felicidade de sair por aí e acabei me deparando com “novidades” que só chegariam nesta paróquia mais de uma década depois.
Do código de barras à esteira rolante no caixa dos supermercados, das pílulas alimentares à bebida que gela ao abrir da lata, eu vim a conhecer a cerveja “sem álcool”, uma enorme novidade há vinte anos atrás. Entusiasmado com a descoberta, gastei “o que não tinha” e comprei doze garrafas da franco-holandesa “Buckler”. Experimentei uma e guardei as demais na mochila para quando retornasse de viagem.
Só pensava no meu pai, cervejeiro por natureza, e que segundo contas do Neneco Silveira teria tomado um açude de bebidas durante toda a sua vida. “Um açudezinho pequeno”, de uns 100 metros cúbicos, esclarece o Neneco, pra não parecer que exagera.
Pois o Pedro Bittencourt estava em Pelotas quando eu retornei, louco para mostrar as novidades. Enquanto conversávamos, fui entregando os presentes que trouxera pra ele: - Um livro do Jules Laforgue – poeta francês nascido acidentalmente em Montevidéu – comprado num sebo de Paris; um postal antigo do cabaré Moulin Rouge; um vinho português; e as Buckler “sans alchool”, compradas em Lyon, sem dúvida algo diferente para aquela época.
O Pedro, exagerado como sempre quando diante de algo novo, ficou radiante, mas não quis experimentar nada sem antes convidar o Jacques Chiacchio, seu parceiro natural de cervejadas. Telefonou pro italiano que estava em Arroio Grande e combinou um encontro no fim de semana, pra desfrutarem juntos da “novidade”.
No sábado, o Jacques apareceu no meio da tarde no apartamento que o Pedro ocupava em cima das Lojas Mazza, no Centro de Pelotas; impaciente, mal esperava à hora de experimentar a tal bebida, já antecipando que não via nenhum fundamento em tomar um negócio que não fizesse efeito.
No início do Jornal Nacional, o Pedro considerou o momento adequado pra abrir as cervejas, como aperitivo antes da dupla sair pra noite; pra o Bar do Comercial, pro Vinícius, pra Bete ou pro Solón, num roteiro que não tinha hora pra terminar.
Aberta a primeira garrafa, cada um sorveu um longo gole, enquanto se olhavam sem fazer nenhum comentário.
Tomaram uma, duas, três... nove, dez, onze, e acabaram ligeirinho com o pequeno estoque.
Então o Pedro se virou pra o Jacques e perguntou provocativo: - “E aí, italiano, bebeste todas as cervejas sem álcool e não tens nada pra dizer?”. Ao que o Jacques, com a calma que o caracterizava, olhou pra o amigo e exclamou na maior tranqüilidade: - “Ué, muito boas, lógico, mas agora vamu pará com essa brincadeirinha e abre logo uma das verdadeiras!”
E continuaram tomando cervejas, pela noite e pela vida afora...
Do código de barras à esteira rolante no caixa dos supermercados, das pílulas alimentares à bebida que gela ao abrir da lata, eu vim a conhecer a cerveja “sem álcool”, uma enorme novidade há vinte anos atrás. Entusiasmado com a descoberta, gastei “o que não tinha” e comprei doze garrafas da franco-holandesa “Buckler”. Experimentei uma e guardei as demais na mochila para quando retornasse de viagem.
Só pensava no meu pai, cervejeiro por natureza, e que segundo contas do Neneco Silveira teria tomado um açude de bebidas durante toda a sua vida. “Um açudezinho pequeno”, de uns 100 metros cúbicos, esclarece o Neneco, pra não parecer que exagera.
Pois o Pedro Bittencourt estava em Pelotas quando eu retornei, louco para mostrar as novidades. Enquanto conversávamos, fui entregando os presentes que trouxera pra ele: - Um livro do Jules Laforgue – poeta francês nascido acidentalmente em Montevidéu – comprado num sebo de Paris; um postal antigo do cabaré Moulin Rouge; um vinho português; e as Buckler “sans alchool”, compradas em Lyon, sem dúvida algo diferente para aquela época.
O Pedro, exagerado como sempre quando diante de algo novo, ficou radiante, mas não quis experimentar nada sem antes convidar o Jacques Chiacchio, seu parceiro natural de cervejadas. Telefonou pro italiano que estava em Arroio Grande e combinou um encontro no fim de semana, pra desfrutarem juntos da “novidade”.
No sábado, o Jacques apareceu no meio da tarde no apartamento que o Pedro ocupava em cima das Lojas Mazza, no Centro de Pelotas; impaciente, mal esperava à hora de experimentar a tal bebida, já antecipando que não via nenhum fundamento em tomar um negócio que não fizesse efeito.
No início do Jornal Nacional, o Pedro considerou o momento adequado pra abrir as cervejas, como aperitivo antes da dupla sair pra noite; pra o Bar do Comercial, pro Vinícius, pra Bete ou pro Solón, num roteiro que não tinha hora pra terminar.
Aberta a primeira garrafa, cada um sorveu um longo gole, enquanto se olhavam sem fazer nenhum comentário.
Tomaram uma, duas, três... nove, dez, onze, e acabaram ligeirinho com o pequeno estoque.
Então o Pedro se virou pra o Jacques e perguntou provocativo: - “E aí, italiano, bebeste todas as cervejas sem álcool e não tens nada pra dizer?”. Ao que o Jacques, com a calma que o caracterizava, olhou pra o amigo e exclamou na maior tranqüilidade: - “Ué, muito boas, lógico, mas agora vamu pará com essa brincadeirinha e abre logo uma das verdadeiras!”
E continuaram tomando cervejas, pela noite e pela vida afora...
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