segunda-feira, 18 de agosto de 2008

QUERO DE VOLTA O MEU PIJAMA DE ALGODÃO

Eu perdi o meu pijama de algodão. Não sei quando, nem onde, só sei que não consigo mais encontrar o pijama da minha mocidade. Armários, gavetas, sacolas... já procurei por todos os lugares e nada de encontrá-lo. Mas eu queria de volta o meu pijama de algodão.
O pijama, mais do que qualquer peça de vestuário, mais do que qualquer enfeite, do que qualquer adorno, acaba se transformando um símbolo de companheirismo, um símbolo de apego, um símbolo da nossa intimidade.
É ele quem compartilha conosco sonhos e fantasias, é com ele que dividimos as nossas preocupações, é ele quem nos acolhe e nos protege no frio do inverno; é o pijama de algodão que fica humildemente esperando, sem qualquer reclamação, até o final do verão, quando decidimos buscá-lo novamente.
As coisas - como diz Borges – nos servem como se fossem escravas, cegamente e em absoluto sigilo. Coisas que vão durar muito além da nossa memória, e que sequer vão saber quando tivermos partido.
Pois são essas coisas que eu procuro e é delas que eu mais preciso agora. O rádio de pilha que me acompanhava quando eu tinha dezessete anos; o meu time de futebol de botão de guri; a coleção de revistas que amenizava a minha insônia de adolescente e o meu pijama de algodão. Coisas, enfim, que vão muito além dos registros da minha memória.
Quando a gente é jovem, sequer percebe a força que essas coisas têm e acaba descartando tudo com a maior facilidade. O desapego e a desatenção fazem com que a gente jogue fora o que vai desejar tempos depois.
Com o passar dos anos, porém, a gente já não tem mais tempo para descartes e quer juntar tudo o que esqueceu pelo caminho.
Por isso, quero de volta os livros que emprestei, quero retomar as conversas que desperdicei, aquele projeto antigo que eu larguei desde a época da faculdade; quero comigo tudo o que perdi, tudo o que eu já não sei mais onde está.
Queria poder juntar os meus antigos casacos de inverno, a mantinha de pescoço do mundial de 78, a fotografia do casamento dos meus pais, o retrato em branco e preto dos meus avós, tudo o que um dia eu fui deixando de lado sem sequer perceber.
Porque tenho medo que, com o passar do tempo, mesmo juntando algumas dessas perdas, mesmo reencontrando o meu primeiro álbum de figurinhas, o meu pijama de algodão, essas coisas já não me reconheçam mais.
Eu, que já esqueci as fantasias da minha meninice, eu que joguei fora os devaneios da adolescência, eu que sequer lembro das utopias da minha juventude..., neste momento, hoje, agora -, mais do que dinheiro, mais do que poder, mais do que qualquer coisa –, eu juro que queria de volta tão somente o meu pijama de algodão.
Porque dentro dele talvez ainda estejam todos os sonhos que eu também extraviei pelo caminho...

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