domingo, 26 de abril de 2020

FIM DE SEMANA NO ARROIO GRANDE (PARTE V)




Atenção, pessoal! Vamos ajeitar essa bagunça. Está demais, né?! Toda a semana é a mesma lenga-lenga. Vai ter Clássico, não vai ter Clássico… O Arroio Grande e o Internacional concentrando, o pessoal pressionando e até agora… nada! Pois chega! Ninguém aguenta mais tamanha enrolação. Vamos organizar. Para começar: em que década afinal nós estamos? Anos 1980, é isso? Então vamos pegar um clássico de futebol ocorrido nesta década e escrever sobre ele, ora bolas. Simples assim. Chega de engambelação. Qual a dificuldade? O que está atrapalhando? Bueno… Agora me apareceu um probleminha aqui, pelo menos um, para contar essa história. É que quando eu começo a digitar na máquina de escrever, uma Triumph alemã, que era do Pedro Bittencourt, comprada ainda no tempo que ele tinha escritório com o Paulinho Carriconde, ali na esquina do centro, onde, lá pelos anos 1920, foi o Hotel Arroio Grandense, de propriedade dos avós do Paulo, o Alfredo e a Augusta, que servia aos hóspedes quatro refeições por dia, todas elas acompanhadas do pão que chegava sempre quentinho da “Padaria Bagos”, do Ernesto Ferreira… Pois quando eu começo a digitar, se eu clico numa setinha que tem aqui no teclado, essa daqui ó <, parece que a máquina volta para o passado e o texto retorna imediatamente à década anterior, ou seja, para os anos 1970. E aí, amigos, muda tudo. E dale falar no Centenário do Arroio Grande, em 1973, e dale visitar a construção do asfalto, da BR 116, com o fim do trajeto que a gente fazia pela estrada velha em direção à Pelotas, parando para tomar café na rodoviária da Vila Matarazzo. E mais… Todo mundo volta a se empolgar com as noites no Restaurante Acapulco, do Cláudio Silva, e com os festivais de música no Marabá… E dale fazer volta no salão do Clube do Comércio, no Carnaval de 1975, com a Tininha de Rainha, e o Paulinho do Kbção fazendo sucesso, “roubando” o bife da janta da Adolphina fotógrafa, e saindo correndo no final do baile, só de frege. Daí seguimos para a segunda metade da década… Bebendo no Dom Kichope, do Gordo do Nei, dançando na Boate do Nézio ou na frenética discoteca Studio 13... Tempos ainda de roubar galinha na madrugada, sem receio de levar um tiro na bunda, para fazer a comida numa garagem qualquer, ou lá na “República do Salso”, na beira do arroio, onde passamos um tempão acampados naquela vez em que faltou luz por quase uma semana em pleno verão calorento do Arroio Grande… Bueno, mas daí já estamos quase voltando para onde estávamos, anos 1980. Ufa! Finalmente vamos poder falar sobre o Clássico. Bah, mas o problema, agora, é que se eu clico numa setinha que tem aqui, no teclado, essa daqui ó >, a Triumph Gabriele parece que vira uma máquina do futuro e o texto avança imediatamente para a década posterior, isto é, sai dos anos 80 e passa para a década de 90... E aí, meu amigo, a brochura é total. Haja tempos difíceis para nosotros, “que amávamos tanto a revolução”, como nessa década. Nós, que já havíamos perdido o movimento pelas Diretas, em 1984, perdemos também a eleição municipal de 1988, com o Plínio, e – não tem nem comparação com a política – tivemos a maior perda pessoal com a morte do Basílio, num estúpido acidente de carro, logo no início de 1990. Ah, e de quebra perdemos também a Top Set, num incêndio, em 1992. Então falar o quê desses anos? Se é só perda, perda, perda. É claro que se ganhou alguma coisa também… Como tudo na vida, a gente perde e a gente ganha… Mas essa transição aí foi cruel, amigo. Sabe como é que são conhecidas essas décadas? 1960, anos rebeldes; 1970, anos incríveis; 1980, anos icônicos; 1990, década perdida… E sabe por quê? Ah, não sabe? Sabe o que é sair do Festival de Woodstock para escutar Mamonas Assassinas? Sabe o que deixar de ver a Nastassja Kinski para ver a Roberta Close no cinema? Sabe? Ah, não tem nada a ver? Não tem, é? A gente ficou de falar no que, mesmo? Do futebol daqui? Pois vale a mesma coisa… Sabe o que é deixar de assistir o Ósca, o Oswaldo, o Wilson do Ari, o Marrequinho, o Adel, o Paulinho da Barraca e outros tantos jogarem, para torcer para uns caras de apelidos estranhos por aqui? Pois vou apresentar para vocês um ponta direita, um tal de Cabrito, que está começando. Será que alguém imagina que vai dar alguma coisa? Pois a mim ele não engana, nem a mim, nem o Arizinho, que nunca vai escalar esse gurizote. Até faço um compromisso aqui, uma aposta, com quem quiser. Se algum dia ele – esse tal Cabritinho – fizer um gol ou der uma volta olímpica pelo Arroio Grande, eu não digo que vou trocar de nome porque gosto do meu, mas me comprometo a escrever um livro só para relatar esse feito. Ah, e prometo contar – finalmente! – sobre os clássicos da cidade. Nem que eu tenha que entrar numa quarentena para elaborar essa história. Eu é que não vou embromar ninguém, né!
Imagens:
I – Cartão da Padaria Bagos (Acervo do Dr. Paulo Machado Carriconde).
II – Explosão na pedreira da Vila Matarazzo (Acervo da Profa. Flávia da Conceição Corrêa).
III – Carnaval no Clube do Comércio – 1975 (Acervo do autor).
IV – Tereza Cristina Silveira (Tininha) – Rainha do Clube do Comércio (Acervo de Gabriela Silveira Garcez)
V – Adolphina Pereira (Do livro “14 personagens e 5 vultos históricos do Arroio Grande”, organizado pelo autor, 2018, pág. 131).
VI – Cabrito (Wilson Silveira dos Santos), autor de dois gols, e Arizinho, dando a volta olímpica em Sobradinho, após a final do campeonato amador de 1991. (Do livro “O Clássico – Uma história de paixão”, obra do autor, 2011, pág. 218).

terça-feira, 21 de abril de 2020

FIM DE SEMANA NO ARROIO GRANDE (Parte IV) (em tempos de saudável aglomeração)


Sabe aquela? Da notícia ruim e da notícia boa? Pois vou começar dando logo a má notícia. Não teve Clássico! A partida foi novamente adiada. Eu sei, eu sei. Eu prometi aqui, no final de semana que passou, contar sobre os clássicos. Mas – que diabos! – o que eu posso fazer se os dirigentes inventaram de melar o jogo? Parece que fica um com medo de perder para o outro. Daí colocam mil empecilhos na Federação. E o jogo não saiu. De novo! Estamos no início dos anos 1980, quase cinco décadas de Clássico, e a rivalidade só aumenta por aqui. Entre torcedores, jogadores e cartolas. Bueno, mas uma hora vou perguntar para os meus amigos, o Papaco e o Silvinho Ferreira, porquê, afinal, o jogo de domingo não aconteceu? Aliás, falando no Tio Izo, acho que um dos primeiros tragos que eu tomei foi na festa de um ano daquele menino dele, o Sílvio Antônio, não faz nem meia dúzia de anos... Aquela tchurma de borrachos toda lá e eu, gurizão, no meio, me sentindo o cara. Comes e bebes a rolê. Quem servia era o Dé. Vinha quase sempre com duas bandejas, mostrando toda a sua habilidade, brincalhão e sorridente, como de costume. Quando a gente abusava e enchia a mão de salgadinhos, ou pegava logo dois copos de wuisque, para misturar ao guaraná, o Dé fechava a cara e soltava um esbravejo: “Mas o quê! Não vão parar de comer? Seus mortos de fome! Cadê a finééésse para vir para uma festa, hein, cadê?”… E nós nos finando de rir da finééésse espichadíssima do Dedéco. Pois é lembrando do Dé que eu trago agora a boa notícia. O Miss Mulata Zona Sul, organizado por ele, foi o maior suuuceeessso. O Dé está nas nuvens! Também não é para menos, o evento, que começou com pequenas pretensões, está agora ganhando repercussão em todo o Estado. Lembro que há pouco tempo, eu entrei no prédio da Câmara de Vereadores, e o Dé lá estava, utilizando o telefone cedido pela casa legislativa para fazer os seus contatos na promoção da festa. Quando eu fui cumprimentá-lo, o Dé, antes mesmo de me dizer bom dia, começou a gaguejar e soltou – “Cacaca…cacaca... Carazinho!” – conseguiu exclamar. Então, diante da palidez assustadora do meu amigo, eu perguntei: Que é que tem Carazinho, Dé? E ele, nervoso, sempre gaguejando: “Coo... coo… coonfirmou!”. Eu repliquei: Ué, mas tu não deverias estar feliz? Mais um município confirmando. E o Dé, exasperado – “Tu não estás entendendo, queridiiinho. É o vigésimo que me confirma! E onde que eu vou botar essa gente toda???”. Pois não é que ele, o Antônio Carlos da Conceição, vem arrumando lugar para todo mundo, e fazendo do Miss Mulata um evento que está dando o que falar nestes anos 80… Assim como os clássicos do futebol, que também vão continuar sendo muito comentados por aqui. Seja no bar do Eraldo, afinadíssimo com os Caturritas, seja no restaurante do Formigueiro, tradicional reduto dos Sacis. Por falar no Formigueiro, quem está seguido por ali, conversando, é o Gilberto Nobre, o barbeiro, criador do bloco de carnaval mais famoso da cidade, o “Papagaio da Rua Nova”, representado por bonecos enormes, semelhantes aos de Olinda, em Pernambuco. Têm o morcego, o gigante, o gorila e o próprio papagaio, entre diversos personagens que assustam e ao mesmo tempo encantam a garotada. Antes mesmo do “Papagaio”, o Gilberto já havia criado o “Bloco da Falsa Baiana”, lá pelo final dos anos 1940. Próximo a esse período, teve também o bloco “Sempre Reinando”, este parece que idealizado pelo Alvião Lúcio. Do carnaval daqui, aliás, daria para falar um monte… (Se algum dia existirem na cidade, Escolas de Samba além da Pé de Arroz, criada pelo Luizinho Fotógrafo, tenho certeza que vou torcer para a do bairro mais afastado. E, se deixarem, até de compositor do samba enredo eu vou me atirar, já vou avisando)… Mas, afinal, qual era mesmo o nosso assunto? Bah, lembrei, o Clássico! Que fica nesse “sai não sai” toda a semana… Mas, me disse o meu amigo, Gadanha, que no próximo domingo, ou no feriado de 1º de maio, vai ter jogo, de qualquer maneira. Bueno, se a partida não acontecer, vou falar dos clássicos que vi e dos que me contaram, neste quase meio século de disputa. Mas que eu estou louco para assistir a uma partida de verdade, ah, isso estou. E acredito que todos estejam querendo a mesma coisa por aqui. Ver um jogo de futebol, um concurso de misses, um show musical ao ar livre, uma festa num bar, bingo, carreira, gincana, quermesse, pernada esportiva, qualquer coisa que tenha povo! Será que a gente ainda vai ter que esperar muito tempo para fazer ajuntamento de novo? Hein?

O Formigueiro (Jandir Pereira dos Santos), com um abridor na mão, na primeira imagem, e segurando com um copo, na outra fotografia.
Gilberto Nobre, está de camisa quadriculada, ao lado do Formigueiro, na primeira imagem, e com um cigarro na mão esquerda, na outra fotografia. (Acervo do autor, por doação de Jari Kerchner Nobre-“Sabão”). A primeira imagem foi postada no blog autorretratopedro em 1º de novembro de 2012.
Pela ordem: Bloco Papagaio da Rua Nova (acervo de Antônio Augusto Añana-“Nico”); Bloco da Falsa Baiana e Bloco Sempre Reinando (acervo do autor por doações de Jari K. Nobre e Paulinho Lúcio, respectivamente).

domingo, 12 de abril de 2020

FIM DE SEMANA NO ARROIO GRANDE (Parte III) (sobre um domingo qualquer – para bem dantes dos tempos de agora)




Abril. Domingo de Páscoa. Dia de Clássico na Avenida. Arroio Grande x Internacional, Sacis x Caturritas. A maior rivalidade do futebol amador da região sul neste início dos anos 1980. Que espetáculo! Vou combinar com os guris para a gente olhar o jogo perto da charanga do Arroio Grande. Do outro lado não, lá não dá, de jeito nenhum! (Se bem que daquele lado… ‘Tão bonitas aquelas gurias do Oswaldo, hein! E as do Papagaio, então? Como estão ficando jeitosinhas. Bah!). Mas o negócio é se concentrar no jogo e torcer para o Saci ganhar novamente. (Apesar que eu ando com um pressentimento… O Ayres agora deu para bobear com aqueles chutes loucos, lá do meio da rua... Uma hora dessas ainda periga acertar um. Tomara que não seja hoje...). Mas, bueno… Desde que o Cine Marabá fechou que a diversão aos domingos por aqui, para quem não gosta de ficar olhando o Chacrinha ou o Sílvio Santos na TV, se tornou futebol, carreiras ou alguma quermesse na cidade. Falando em carreiras e nas quermesses, eu não curto muito, não. Para mim, a melhor coisa que tem nessas daí, principalmente nas penca, é o pastel. De goiabada ou de nata. Esse último, então, quando está bem quente, chega a escorrer e queimar os beiços. Loco de bom! Mas, voltando ao tempo do cinema... A minha época foi dos matinés. A gente ia lá para assistir algum filme do Tarzan, do Mazzaropi, ou um faroeste. Passava primeiro no Café do Machado para tomar uma pepsi e comprar diamante negro ou bala azedinha. Daí entrava para a sessão uns quinze minutos antes, a fim de treinar beijo no braço para não fazer feio com a guria convidada. Isso caso ela deixasse beijar, é claro, o que quase nunca acontecia. Que dureza! (Teve uma vez que eu consegui levar aquela loirinha de sardas que mora perto do Ginásio. Meu Deus! Na boca foi só um beijo, ou quase, já que foi meio de lado, de bico… Mas eu passei a sessão inteira beijando aquelas pintinhas do rosto dela. E ela ficou vermelha o tempo todo. Ôh, coisa linda! Juro que eu até pensei que iríamos casar no futuro… O filme? Nem vi direito. Mas tinha aquela música italiana – Al di la, del bene piu prezioso, ci sei tu – que me jogava para as sardas da loirinha cada vez que tocava. E ela ali, ruborizada. Que momento!). Será que o nosso cinema vai reabrir algum dia? E os festivais de música, voltarão? Alguém recordará, daqui a alguns anos, que esses guris que tocaram naquela novela das dez, da Globo, a Saramandaia, do tal conjunto Almôndegas, começaram se apresentando justo aqui, no Marabá? “Quando a meia-noite me encontrar junto a você...”. Alguém algum dia lembrará das figuras que divertiram os festivais de música do cinema? O Adão Delão, Simone, “a bailarina cobra”, a dupla Sará e Sereno, e – o maior de todos – Athanásio Ghantes, “El Gantecito”? Quem sabe o Arnóbio, depois de parar de trabalhar no Direito não escreve alguma coisa sobre esse tempo de agora? E sobre os nossos personagens, esses tipos. Daí a gente pode até fazer em forma de narração. Pega o Rui Vitória para interpretar e divulga nos alto-falantes da Voz dos Pampas, do Ganso. Que anuncia desde enterro até venda de mocotó, e com o Hino Nacional ao fundo! Como lembrou, esses dias, o Dr. Paulo Carriconde, quando o pai se encontrou com ele ali no Restaurante Progresso, do Seu Albino Peter. Bueno, mas do que era mesmo que eu pretendia contar hoje? Domingo... Putz, lembrei! É dia de Clássico! Bah, mas agora o espaço ficou curto e não dá para descrever um jogo dessa grandeza em meia dúzia de linhas, né. O Clássico fica adiado para o domingo que vem. Temos tempo, temos tempo… Aliás, sei não, mas continuo com um palpite esquisito. Tenho a impressão que, n’algum dia, a gente, sei lá por que razão, não vai poder sair para ver os jogos de futebol, para se encontrar na praça ou na esquina da Apolphina… Vai ter que ficar um bom tempo dentro de casa. Lendo e escutando histórias, como na época dos nossos avós. Apesar de toda a tecnologia que está surgindo, não sei porque, mas eu estou com a sensação, neste início dos anos 1980, de que daqui a alguns anos a casa da gente será o único lugar seguro em todo o planeta. Sei não, sei não...

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O meu abraço carinhoso a todas as pessoas citadas neste e nos demais textos que venho publicando. Aos familiares, maridos, esposas, aos amigos… Estamos num tempo em que precisamos externar e compartilhar o nosso afeto de alguma forma. A maneira que eu tenho é esta: escrevendo e esperando que vocês possam ler, aí, na casa de vocês. E se gostarem melhor ainda.
Sobre os Clássicos, fica para o domingo que vem. Prometo que desta vai ter jogo, com pênalti, gol, expulsões, confusão e tudo mais. Porque ao menos aqui na página ainda pode ter aglomeração.
#ficaemcasa


sábado, 4 de abril de 2020

FIM DE SEMANA NO ARROIO GRANDE – PARTE II (feito um sábado qualquer, para bem antes da quarentena...)



Bueno, a sexta-feira já foi, o negócio agora é levantar e beber alguma coisa para resolver de vez essa ressaca. Eu não devia era ter misturado... Também, que ideia foi aquela de passar no Travança para tomar a saideira ao clarear do dia? Paciência, o negócio agora é limpar essa secura com laranja ou limão. Será que o pai trouxe Crush, do Rio Branco? Senão, tá tranquilo, deve ter Minuano na geladeira. Mas o que me atrapalha mesmo é a mãe ter ido com ele para o Hermenegildo. E agora, bóia aonde? No Cilinho, no Élvio Brasil ou no Mulita? Os três locos de bom, baita comida caseira, mas daí vou ter que gastar, né, e hoje é sábado, dia de festerê por aqui… Já sei, vou filar o rango lá na Dona Alicinha. Ali é a minha segunda casa, ela e o Fuzuca são gente maravilhosa e, afinal, quem alimenta dez, uma boca a mais... O brabo é aguentar os guris, cada um achando que joga mais que o outro... Mas está resolvido, vou lá na Máximo Pereira, na “esquina dos bons”, como eles dizem. Putz, o problema é por onde eu saio daqui… Se for em linha reta, pela Júlio de Castilhos, vou acabar me encontrando com o Brenda, na frente do Quitandinha, e daí já começa o trago de novo. E dale a gente falar no Martha Rocha. Que falta nos faz aquela cabeça! Se o Seu Moacir Prestes aparecer, então o assunto vai ser um só: Brizola. Não o filho dele, o Luizinho, mas o ex-governador, o Leonel, que acabou de voltar para o Brasil. Quinze anos exilado, como é que pode? Bueno… Se eu for pelo Centro, a passada pela Top Set é mortal, ainda mais nesse horário com a turma do aperitivo toda por ali. O Jacques, o velho Cabrito, o Camarão… Não!!! (Falando no Marco Aurélio, periga até já ter se mandado para o Herval, apaixonado que está. Quando vê esse loco ainda se casa e acaba virando prefeito por lá. Quem é que duvida?). Bah, pelo Centro não dá, é melhor nem passar por perto… Se bem que se eu for pelo lado direito, têm o Formigueiro e, lá adiante, a casa do Campeão... Jesus! Como é difícil escapar da birita aqui no Arroio Grande. Imagina se um dia tiver uma epidemia qualquer, uma doença dessas que vem de longe, e a gente precisar ficar em casa, em quarentena? Kkk. Que ideia mais ridícula, isso nunca vai acontecer, estamos no início dos anos 1980 e em seguida já devem descobrir todas as curas... Bom, o certo é que vou almoçar lá no Seu Issa, daí já peço pr0o Cizico algum palpite para o jogo do bicho. Ele jura que é pé quente! Depois da bóia, o negócio é uma sestiada e esperar pela noite… Hoje é sábado. Dia de achar uma desculpa para deixar as namoradas em casa mais cedo e se mandar para o Guarani ou para o Canecão. Eu sei, eu sei... Podem censurar que eu aceito. As coisas estão mudando, e, dentro de pouco tempo, estúpidos como nós, que fazem isso daí, vão ouvir muitas e boas. Pela cafajestice, pelo machismo, pela indignidade, pela vileza, e sei lá mais o quê. Mas – que diabos! – o primeiro passo para a gente corrigir as nossas infâmias é assumindo-as, não é mesmo? Não? Tá bem, tá bem… E não é querer defender, mas se os bailes de campanha – o Baile do Diomar, o do Beca, o do Doca, o Baile do Salvador e outros – já não são a mesma coisa e alguns até nem existem mais, querem que a gente faça o quê? Que fique em casa assistindo a Sessão Coruja? (Se bem que uma sessão coruja do lado da namorada…). Está justificado? Também não? Vamos pular essa parte então – ataia, ataia… Bueno, amanhã, se o Pedro tiver retornado, deve assar a linguiça comprada no Artur, lá de perto da Morocha. Isso se não encomendou galinha ao molho pardo da Maria do Mário. Tudo porque é início de outono e o Duca e o João Mendes não começaram ainda a vender mocotó, a verdadeira comida dos domingos. Domingo…Dia também do futebol. PQP! Tinha esquecido. Vai ter Clássico na Avenida! Mais um baita programa no fim de semana... Bueno, se o Saci vencer mais essa eu vou para a carreata. Ao som da Farroupilha! (A cara que o maestro Joãozinho faz quando o Feijão chega para tocar com os zoinho apertados é algo...). Mas caso dê zebra e a gente perder, o negócio é ir para casa e sumir por um mês. Não dá para aguentar a flauta do Dante e do Prego no Café do Tritri. Ainda mais agora que surgiu a Difusora para transmitir os jogos… Grande João Saraiva! Sonhou décadas, lutou anos e conseguiu colocar uma Rádio no ar. Será que vai durar? Será que daqui a 30 ou 40 anos a gente vai ter algum motivo para não sair às ruas e permanecer quieto assistindo televisão ou escutando a rádio da nossa cidade a nos dizer: “Fique em casa!”? Será?


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Imagens: Clube Guarani – Blog da Sec. Mun. de Cultura. Post de Ricardo Freitas (Donga) em 14.09.2010.
Banda Farroupilha – Acervo do autor por doação de Paulo Ricardo Carduz Lúcio (Mingau).
Sobre os “clássicos” de futebol eu vou contar no outro domingo. Na terceira e última parte do “Fim de semana no Arroio Grande”, para bem antes da quarentena...
Enquanto isso, escuta as autoridades da saúde e só sai em caso de necessidade. Te cuida! #ficaemcasa