sexta-feira, 27 de março de 2020

FIM DE SEMANA NO ARROIO GRANDE (para dantes do confinamento, para quarenta anos atrás...)


Bueno… Se essa dor no joelho não passar, azar, não vou deixar de sair hoje. A gente deve ficar em casa quando tem motivo. Para não pegar uma gripe forte e não transmitir para os outros, por exemplo… Mas hoje é sexta-feira e a programação promete. O Arroio Grande cresceu muito neste início dos anos 1980... Para começar, vou aproveitar esse princípio de noite e comer um lanche no novo bicão da pracinha. Aquele cachorrão com a ervilha escorrendo junto à maionese quente e empapando o saquinho que protege o pão. Para depois a gente lamber a embalagem e as gurias acharem nojento. Loco de bom! O Paulinho do Kbção adora. E ainda vem com duas salsichas! Dali, estômago forrado, vou até o Dovinha comentar o jogo da tarde com os guris… Mas, voltando ao Cabeçãozinho, quando é que ele vai nos convidar pra comer camarão à milanesa no Nacib novamente? Que coisa boa! E o Adão Miranda ainda pode se empolgar e cantar um bolero à capela. “Tanto tiempo disfrutamos de este amor, nuestras almas se acercaron tanto asi, que yo guardo tu sabor, pero tu llevas también, sabor a mí...”. Espetacular! Já me deu vontade de escutar música. É certo que depois do Bar dos Esportes vou dar a tradicional passada pela Top Set para encontrar o Basílio. (Sempre que saio de casa, aqui perto do presídio, em direção ao Centro, e passo pela Biblioteca Pública, fico pensando: será que um dia vai ter uma sala em homenagem ao poeta Leonel Fagundes ali? Ou será para o Lauro Machado a deferência? Ou para o louco do Pedro Bittencourt? Não, esse não, está bem vivo e é muito novo ainda...). Bom, se o Basílio estiver disposto, acaba pegando o violão, daí passamos para o salão do Forninho. Então cantaremos: “Vai, minh’alma vai, te esconde lá, onde o delírio destes tempos não tem mais lugar… Kênia...”. Que maravilha! Um beijo pra quem fica, América! E para beber, o que vai ser? Cachaça com butiá, cuba libre, um hi-fi, quem sabe wuisque – se o Edy do Solano der uma força, né, porque tá caro! – ou uma cervejada a rolê? Qualquer coisa o Eraldo pendura… Tudo, menos aqueles martinis e camparis que só o Bessa toma. Bebida doce, como é que pode!?! Mas o “Diabo” nem sempre está por aqui e já pode até ter se mandado para Pelotas atrás de um rabo de saia. Lá também é bom. Ainda mais que estão ganhando força os barzinhos nativistas e o louco tá começando a ficar conhecido no circuito… Mas hoje eu não posso ir, ainda mais com o Chevette queimando óleo e com o radiador vazando e colado com chiclete… Vou ficar pela terrinha mesmo. Volta é que não falta pra dar. Primeiro o bicão, depois o Dovinha, a Top Set… Será que nesta sexta-feira vai ter Mezanino? Se tiver, bingo! Todo mundo vai para lá. Bah, pena que a Studio 13 fechou faz pouco tempo. Ali era bucha, festerê garantido todo o final de semana. Aquele som meio psicodélico que o Vano colocava, o Zorginho Travolta dando show no centro do palco, uma mulherada na arquibancada, e a gente olhando aqueles trocinho e pensando que ‘tavam dando bola pra gente… Bah, mas sem pegar nada é brabo! O negócio é pensar em outra coisa para se alimentar no fim da noite, na hora que bater a larica... Outro lanche! Aonde? (Dizem que o Mauro Marques está pensando em abrir um bar, e que vai se chamar “Mostardão”. Bom, se o Alemão fizer isso, é outro que não se roga no violão, e deve encostar o Tuíca na cubana, daí o negócio vai se estender até de madrugada…). Ao encerramento, combalido, mas sinais vitais preservados, é certo que terminarei no Bibico, o tradicional fim de linha antes de voltar para casa. E ali, lá pelas cinco da manhã, vou pedir pro Jerônimo rodar Terra, ou Cajuína (“existirmos a que será que se destina”) do Caetano Veloso, ou alguma coisa dos Mutantes ou do Jards Macalé, naqueles elepês que só ele tem…

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