domingo, 23 de dezembro de 2012

CRONIQUETA PARA O APANHADOR

 
Vi “O apanhador no campo de centeio” na mesa de cabeceira do quarto do meu filho. Ele está tentando ler o clássico de J. D. Salinger. Assim como tentou ler também “On the Road”, do Kerouac, e “Hells Angel's”, do Hunther Thompson. Antes, eu já havia me deparado com a “Metamorfose”, do Kafka, entre as coisas do guri. São boas escolhas, é certo, e não se pode negar que ele – recém chegado aos 18 anos – está buscando, tentando... Mas é difícil. Dos citados aí em cima, “O apanhador” é a história de um jovem de 16 anos nos EUA dos anos 1940-50, o que parece não ter nada a ver com os dias de hoje. Assim como “Hells Angel's” e “On the road”, símbolos da contra-cultura de 50, 60 anos atrás, que despertam mais curiosidade do que satisfação, pois dizem respeito a uma outra época, de jovens com outra formação, embora sejam obras que mantêm acesa a chama da irreverência, da transgressão que marcou aquele período.
E isso atrai, é claro. A todas as gerações. Aliás, não é a toa que o meu filho frequentemente pergunta por Ginsberg e tem algumas obras do Bukowski junto às coisas dele.
Sinais do fim da adolescência, ou do crescimento de um jovem em busca de afirmação, a procura de desafios, ou que simplesmente quer chamar a atenção, sei lá. O que sei é que todos nós, de alguma forma, passamos por essa fase, independentemente daquilo que será a nossa característica – de leitores ou de abobados – mais adiante.
Eu, por exemplo, nunca me esqueço de uma ocasião, quando eu tinha os meus dezessete anos, em que uma menina, mexendo na minha mochila, pegou o “Cem Anos de Solidão”, do Garcia Márquez, e tentou me esculhambar na frente de todo mundo. – Queres te exibir! – ela disse – com um sorriso maldoso, semi-disfarçado sob o cabelo ruivinho, brandindo o livro em frente à turma que já ensaiava uma vaia. Eu cheguei a titubear por alguns segundos, verdadeiramente tremi, mas não demorou muito e a resposta veio como eu necessitava: esperta, aguda, irrebatível. – Se quisesse me exibir eu lia Joyce – disse, arrancando o livro das mãos da loirinha, e quase que sentindo o peso de um clássico de mais de 800 páginas entre as minhas próprias mãos.
Naquela época, eu ainda não conhecia o “Ulysses”, mas, que diabos, se era para me exibir...
(Se eu fosse o meu guri, não tirava o “Metamorfose” de dentro da mochila, exceto para colocar no lugar dele um Dostoievsky...).     

2 comentários:

Solismar Venzke Filho disse...

passei por aqui... para dar um abraço de final de ano a todos.
Viro a página 2012 para entrar em 2013, na nova era dos Maias com os espiritos luminados. O ano vindouro será para mim particularmente um divisor de águas, assim penso.
Lembraças a todos e até 2013....
Solismar Venzke Filho.

Pedro Jaime Bittencourt Junior disse...

Grande abraço, Solismar.
Já antecipo que, por inúmeras razões, a página deixará de existir em 2013.
Mas sobre isso comentaremos mais adiante.
Por enquanto, feliz 2003, a ti e a todos que passaram por aqui!