Vi “O apanhador no campo de centeio” na mesa de cabeceira do quarto
do meu filho. Ele está tentando ler o clássico de J. D. Salinger.
Assim como tentou ler também “On the Road”, do Kerouac, e “Hells
Angel's”, do Hunther Thompson. Antes, eu já havia me deparado com
a “Metamorfose”, do Kafka, entre as coisas do guri. São boas
escolhas, é certo, e não se pode negar que ele – recém chegado
aos 18 anos – está buscando, tentando... Mas é difícil. Dos
citados aí em cima, “O apanhador” é a história de um jovem de
16 anos nos EUA dos anos 1940-50, o que parece não ter nada a ver
com os dias de hoje. Assim como “Hells Angel's” e “On the
road”, símbolos da contra-cultura de 50, 60 anos atrás, que
despertam mais curiosidade do que satisfação, pois dizem respeito a
uma outra época, de jovens com outra formação, embora sejam obras
que mantêm acesa a chama da irreverência, da transgressão que
marcou aquele período.
E
isso atrai, é claro. A todas as gerações. Aliás, não é a toa
que o meu filho frequentemente pergunta por Ginsberg e tem algumas
obras do Bukowski junto às coisas dele.
Sinais
do fim da adolescência, ou do crescimento de um jovem em busca de
afirmação, a procura de desafios, ou que simplesmente quer chamar a
atenção, sei lá. O que sei é que todos nós, de alguma forma,
passamos por essa fase, independentemente daquilo que será a nossa
característica – de leitores ou de abobados – mais adiante.
Eu,
por exemplo, nunca me esqueço de uma ocasião, quando eu tinha os
meus dezessete anos, em que uma menina, mexendo na minha mochila,
pegou o “Cem Anos de Solidão”, do Garcia Márquez, e tentou me
esculhambar na frente de todo mundo. – Queres
te exibir! – ela disse – com um
sorriso maldoso, semi-disfarçado sob o cabelo ruivinho, brandindo o
livro em frente à turma que já ensaiava uma vaia. Eu cheguei a
titubear por alguns segundos, verdadeiramente tremi, mas não demorou
muito e a resposta veio como eu necessitava: esperta, aguda,
irrebatível. – Se quisesse me exibir eu
lia Joyce – disse, arrancando o livro das
mãos da loirinha, e quase que sentindo o peso de um clássico de
mais de 800 páginas entre as minhas próprias mãos.
Naquela
época, eu ainda não conhecia o “Ulysses”, mas, que diabos, se
era para me exibir...
(Se
eu fosse o meu guri, não tirava o “Metamorfose” de dentro da
mochila, exceto para colocar no lugar dele um Dostoievsky...).
2 comentários:
passei por aqui... para dar um abraço de final de ano a todos.
Viro a página 2012 para entrar em 2013, na nova era dos Maias com os espiritos luminados. O ano vindouro será para mim particularmente um divisor de águas, assim penso.
Lembraças a todos e até 2013....
Solismar Venzke Filho.
Grande abraço, Solismar.
Já antecipo que, por inúmeras razões, a página deixará de existir em 2013.
Mas sobre isso comentaremos mais adiante.
Por enquanto, feliz 2003, a ti e a todos que passaram por aqui!
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