sexta-feira, 21 de setembro de 2012

DIREITO E FUTEBOL


Dia desses, assistindo na TV uma partida de futebol, descobri que o nome de um time de Buenos Aires, o Vélez Sarsfield (Fundação: 1º/1/1910, 45 mil sócios), é uma homenagem ao grande jurista argentino Dalmácio Vélez Sársfield – ministro dos governos Mitre e Sarmiento – e que foi o responsável pelo Código Civil argentino de 1869, cujos dispositivos, na sua maioria, permanecem em vigência até hoje, quase 150 anos depois.
Que rica homenagem, que belo reconhecimento, que exemplo! Especialmente para nós, operadores do Direito, que gostamos de futebol – um esporte notadamente popular –, mas que vivemos no mundo da toga, da gravata, do formalismo das audiências e dos tribunais.
Confesso que fiquei com ciúmes dos argentinos, com inveja dos torcedores do Vélez. Fiquei pensando por quê isso nunca aconteceu por aqui, por quê nenhum Clube brasileiro se interessou em dar o seu nome a um jurista, a um laborador do Direito pátrio.
Passei a imaginar equipes históricas, clássicos de rivalidade insuperável, jogos inesquecíveis.
Times antigos, como o Clóvis Bevilacqua, por exemplo, fariam partidas antológicas contra o Rui Barbosa, ambos nascidos praticamente na mesma época. Já times técnicos, como o Sobral Pinto, disputariam jogos renhidos contra o Evaristo de Moraes, enquanto que equipes gaúchas, como o Osvaldo Lia Pires ou o Omar Ferri, seriam sempre fortes, nas disputas locais ou nacionais.
Todavia, não tenho a menor dúvida de que o grande clássico brasileiro, o super derby, o maior dos encontros, seria mesmo o duelo Pontes de Miranda x Nélson Hungria que deveriam fazer todos os anos a abertura oficial do campeonato, estádio cheio – a rivalidade entre civilistas e penalistas – com transmissão ao vivo em tevê aberta para o país inteiro. Na preliminar, Miguel Reale contra Hely Lopes Meirelles, filosofia x administrativismo.
Que espetáculo, que maravilha seriam os jogos entre equipes com os nomes dos juristas, que, entretanto, jamais aconteceram no Brasil.
Aliás, até nos torneios promovidos pela nossa OAB, onde os times adotam nomes prosaicos, previsíveis – como Arsenal, Barcelona, Milan – deveriam aparecer nomes consagrados do Direito local, numa homenagem àqueles que, em algum momento, contribuíram para a formação da nossa escola de bacharéis.
Já pensaram numa partida entre Ápio Cláudio de Lima Antunes e Mozart Victor Russomano? Ou numa final entre familiares: Bruno de Mendonça Lima e Alcides de Mendonça Lima? E com a Rosah fazendo parte do trio de arbitragem! Que jogos, colegas, que jogos!
(Já o Aldyr Schlee e o Gilberto Quadrado, gostariam, logicamente, de emprestar os seus nomes para os times um pouco mais tarde, por enquanto seria o momento de ficar apenas assistindo os jogos da arquibancada, espiando e palpitando).
É claro que tudo tem um porém, um “senão”, uma limitação, pois que, especialmente em se tratando de juristas, a ética, a equidade e a disputa justa deveriam estar garantidas, inclusive na questão econômica, nos investimentos de cada equipe.
Neste aspecto, num campeonato nacional da atualidade, haveria grande reclamação quanto a força do time de um Márcio Thomáz Bastos, por exemplo; afinal, patrocinado pelos honorários do Cachoeira e pela turma do mensalão não teria a menor graça. Mas teria todo o direito!

9 comentários:

Luiz Carlos Vaz disse...

Uma bela história, comnpartilhei no Facebook, PJB. Um abraço, Vaz

Luiz Carlos Vaz disse...

Uma bela história, compartilhei no Facebook, PJB. Um abraço, Vaz

Maribel disse...

Show de bola. Literalmente. Mas e o time Alberto Rufino R.R. de Souza, o vulgo ALbertão? Este seria conhecido pela garra, pela força e pela seriedade em campo? E o time do professor Gilberto da Cunha Gastal? Que leveza, que jogo de cintura! E o Pedro Moacyr Perez da Silveira! Que ética! Que fair play! E não dá pra esquecer um nome feminino: Miriam Bastos dos Santos! Que elegância! É isso aí!! Se a moda pega...

Pedro Jaime Bittencourt Junior disse...

Valeu, Vaz.
Bem que o Aldyrzinho - verve inigualável - poderia lançar o Parte II no BF.
Os times são inesgotáveis e, pela categoria, sem o menor risco de rebaixamento.
(Exceção do velho Pedro Jaime, que jogava demais mas o que gostava de esculhambar...)
Abraço.

Pedro Jaime Bittencourt Junior disse...

Pois é, Maribel, o Albertão até poderia jogar, e com muita qualidade entre todos esses times.
Já os demais, a exemplo do Schlee e do Quadrado (na crônica), acredito que ainda prefiram esperar um pouco para receber esse tipo de homenagem.
Ainda mais a minha querida Profª Myriam, justificadamente vaidosa, não deve ainda querer entrar em campeonatos com a participação de colegas do século retrasado, que já partiram há tempos.
Daí em vez de homenagem iria parecer ofensa (brincadeira, claro).
E o Pedro Moacyr, hein, de acordo com algumas histórias que convivemos juntos, quando o time dele entrar em campo será garantia de grandes trapalhadas, com toda a certeza.
(Figura maravilhosa, o Pedrão, grande colega, grande amigo, e, pelo que sei, grande ensinador).
Abraço e obrigado pela participação.

Aldyr Rosenthal Schlee disse...

Grêmio Esportivo Mestre Maffei. Seria uma loucura!

Pedro Jaime Bittencourt Junior disse...

Extraordinária lembrança, Aldyr, fantástica.
Só que o G.E.M.M não haveria de aceitar o desafio de medir forças com qualquer "clubeco".
O adversário teria que vir com formação gabaritada - PHD, talvez, ou, no mínimo, doutorado.
Daí pra cima!

Ricardo Petrucci Souto disse...

Pena que cheguei tarde neste debate, mas pra manter a coerência registro ser hincha de cuatro costados do C. A. Américo Plá Rodrigues.

Pedro Jaime Bittencourt Junior disse...

O Petrucci é realmente coerente: fã do futebol uruguaio, propõe o "Clássico do Rio da Prata" - Américo Plá Rodriguez X Dalmácio Veléz Srafield; de dar inveja a Peñarol e Boca!