segunda-feira, 15 de setembro de 2008

CONSERVADORISMO (A panela de tampa azul)

A mãe da Nazine casou com o pai da Magali em1958, há exatos 50 anos. É bem verdade que quando os dois casaram não eram ainda os pais de nenhuma delas, nem de quem quer fosse. Mas casaram, e quando chegou o casamento o casal ganhou os presentes comuns da época: jogo de lençóis, de toalhas, faqueiros, copos, e um conjunto de panelas, de quatro ou cinco peças.
Pois dessas panelas, todas de tampa azul, eu “roubei” uma da mãe das minhas irmãs; a segunda peça maior do jogo, eu acho.
É nela que eu cozinho todas as quartas-feiras - dia de preparar a crônica para “A Evolução”; noite de futebol na tevê e de ir até tarde na internet. Em meio a tudo isso - e a música e a conversa e o namoro... -, o preparo do jantar na panela de tampa azul.
Enquanto a comida apronta – filé ou alcatra, ou lombo de porco, ou peito de frango desossado, com molho quatro queijos por cima, depois... – eu fico observando a panela que os meus pais ganharam de casamento, e viajo no tempo entre um gole e outro de cabernet.
Quantas histórias refletidas no azul espelhado da tampa, quanta gente esteve próximo daquela panela sem nem mesmo notá-la, primeiro na velha casa da esquina da Praça, e, depois e definitivamente, junto ao número 34 da Rua Júlio de Castilhos.
Os padrinhos de casamento dos meus pais – o Sílvio “Bolinha” Carriconde e a mulher; o Dr. Antônio Siedler, que jogava xadrez com o meu pai; a Maria Caetano, sempre a visita mais esperada; a Carolina, o nosso “anjo” temido pelas injeções; a turma de fora – os Juízes Luís Antônio e Grassi, o Promotor Fausto, o Passinhos e o Jacaré; o pessoal do Regente, de Jaguarão; o Delegado Bosa e os advogados da cidade, quase todos – o Dr. Paulo Carriconde, o Arnóbio, o Sérgio Canhada...; o Camarão, antes de virar Prefeito no Herval; os músicos Basílio Conceição e Gilnei Silveira; os Negãozinhos, de Pelotas; o Avirelis, a Amália, o Julinho Salaberry, e uma geração inteira de boêmios que fizeram da “Rua da Bahia” um lugar marcante do Arroio Grande.
Muitas dessas pessoas já partiram, outras naturalmente envelheceram, e a velha panela permanece ainda em plena atividade, cumprindo com a sua missão de fazer “comida boa”, e com a promessa de total serventia por mais meio século, talvez.
É bem verdade que o azul da tampa já se encontra meio desbotado, sofrendo com o desgaste natural do tempo; mas também pra quem assiste as campanhas políticas de hoje – pálidas, chochas, sem brilho algum... - como exigir mais da velha panela, como pensar em substituí-la sem arriscar comprometer o próprio paladar, como experimentar algo novo sem a certeza de que a gente não vai se arrepender depois?
Pois eu não sei se me acomodei, se virei conservador, ou se o marketing das “novidades” anda muito fraco atualmente, mas a verdade é que, ao menos por agora, eu não vejo a menor necessidade de trocar a panela de tampa azul, não vejo mesmo, de jeito nenhum, não vejo não.

2 comentários:

Guto Franco disse...

Grande Juninho!
Deixo meu comentário elogioso ao teu blog e aproveito para convidar a fazer uma visita em meu blog: www.nobloguedoguto.blogspot.com

OBS: Estás na minha lista de links.

Grande abraço

Pedro Jaime Bittencourt Junior disse...

Grande Guto Franco.
É uma satisfação receber a luxuosa visita do amigo e o seu generoso elogio ao nosso "auto retrato".
Fico devendo comentário ao teu blog - o qual visitarei daqui a pouco -; assim que der postarei algo por ali.
O amigo deve imaginar que, neste momento, além da literatura, escritório, família, diversão, etc..., também os envolvimentos jorginísticos e donguísticos tem me tomado algum tempo.
Mas logo, logo, passa, e então será um prazer deixar uma postagem nobloguedoguto, ok!
Um abraço.