Ele não foi apenas
o advogado, o prefeito, o político… Não foi simplesmente o homem,
o marido da Magda, o pai da Morena, da Mariá e do João. Não! Marco
Aurélio Gonçalves da Silva, o “Camarão”, nascido em 11 de
março de 1949 e falecido neste 2 de dezembro, foi, acima de tudo, um
grande personagem, um dos maiores desta zona de fronteira, conhecido
que ficou em Herval, no Arroio Grande, em Jaguarão, em Pelotas,
enfim, por toda a região sul e em grande parte do Estado.
Carismático,
polêmico, irreverente, Camarão foi um divisor de águas na cidade
onde impulsionou a sua carreira política, e Herval – lugar que
escolheu para viver no início dos anos 1980 – nunca mais seria o
mesmo depois da sua primeira eleição como prefeito (1988), numa
campanha antológica, com direito a discursos acompanhados de banda
de música e de foguetório, e diferenciada por caminhadas memoráveis
que levavam os seus apoiadores ao delírio.
Eleito
novamente no ano de 2004, Camarão transformou-se numa das maiores
lideranças políticas da zona sul e, como sói acontecer com esse
tipo de personagem, despertou amores e rancores entre os moradores de
Herval, sendo adorado por populares, mas visto com reservas no
ambiente das classes sociais mais abastadas da pequenina cidade.
O
seu lema de administração – É preciso sacudir Herval! –
ecoou pelos quatro cantos da terra que abrigou o poeta Pedro Canga, e
Camarão tornou-se popular em todos os lugares – do Bote ao São
Diogo, do Mingote à antiga estação Basílio.
Conhecido
de grandes lideranças políticas do Estado e do País, Marco Aurélio
esteve próximo de vice-governadores, como o socialista Beto Grill,
de governadores, como o trabalhista Alceu Collares, de presidentes,
como a petista Dilma Rosseuf, e de políticos estrangeiros como o
blanco Sergio Botana, intendente de Cerro Largo, Uruguay,
tendo franco acesso aos gabinetes dos políticos, especialmente os do
campo “à esquerda”, já que Camarão trilhou sempre os caminhos
do trabalhismo de Jango e de Brizola.
Marquito,
como costumávamos chamá-lo, transitava por todos os ambientes:
entre estudantes e intelectuais, em meio a trabalhadores e
vagabundos, e entre operários e servidores, e boêmios e
prostitutas… Mas era, acima de tudo, no meio do povo, entre as
pessoas mais simples, que ele se sentia bem.
O Camarão foi grande, foi gigante, foi dos maiores.
O Camarão foi grande, foi gigante, foi dos maiores.
“Que
descanse em paz!” – é como se costuma dizer para quem parte.
Pois,
para o Camarão, tal expressão decididamente não tem nenhum valor.
O agitado, polêmico e irreverente personagem deverá ficar como um
punhal encravado sobre as nossas consciências, com a voz forte e
incisiva a nos provocar, dizendo: Enquanto houver
desigualdade neste país briguem por mim,
lutem por mim enquanto existir
injustiça no mundo!
Podes deixar que nós brigaremos, sim, Camarão, a tua, a nossa luta,
não vai parar. Definitivamente, é agora, mais do que nunca, que ela
tem que continuar.
Nas imagens: 1) Pedro Bittencourt, Camarão e Magda Nunes, 1981; 2) Pedro Bittencourt, Camarão e Paulo Carriconde, anos 1960; 3) Camarão, Verônica Camerini e Pedro Bittencourt Jr, anos 2000.
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