No
ano passado, mais ou menos por esta época, eu recebi um prêmio que
muito me orgulhou, o “Troféu Oscar Falcão”, uma homenagem às
pessoas que fizeram algo pelo esporte em Arroio Grande. A minha
inclusão entre os indicados deu-se, segundo disseram, em razão da
autoria do livro O “Clássico” – Uma história de paixão,
publicado em 2011. Fiquei duplamente honrado: pelo reconhecimento da
obra, mas também porque o troféu leva o nome do Oscar Falcão, o
extraordinário goleiro do Esporte Clube Arroio Grande.
Eu
nunca escondi de ninguém que o grande ídolo da minha mocidade, no
futebol, foi ele, o “Ósca”, de quem muito se disse e se
escreveu, aqui na Cidade e pelo Rio Grande afora. O professor Rui
Carlos Ostermann, por exemplo, ao conhecer o Ósca numa ocasião em
que esteve no Arroio Grande, resumiu para o jornal Zero Hora, no ano
de 1982: “Chama-se Oscar, escrevo assim embora pronunciem o nome
com acento grave no “O”. Já passa dos trinta e vai ficar como um
mito encravado nas conversações intermináveis de Arroio Grande e
adjacências”.
O
Ósca sempre foi o meu ídolo, o mito, a lenda. Até porque, por ser
torcedor Sacy, eu nunca aceitei comparações com outros
jogadores, o meu herói era o Ósca e somente ele, para mim ele era
absoluto, inigualável, incomparável. Os outros – os do “outro
lado” – que escolhessem quem eles queriam idolatrar, ora bolas!
E
que bom que eu sempre pensei assim, que bom que eu nunca quis dividir
a minha idolatria.
Porque
do “outro lado”, lá, do lado “deles”, também havia um
craque, e – que provocação! – também goleiro, e – que
diabos! – tão fabuloso, tão espetacular, tão maravilhoso quanto
o meu ídolo, o herói que eu nunca quis colocar sob disputa com
ninguém.
Do
outro lado esteve, por anos e anos, vestindo a sagrada camiseta do
Grêmio Esportivo Internacional (embora tivesse atuado também pelo
E. C. Arroio Grande), o extraordinário goleiro Osvaldo Britto, um
multicampeão amador e profissional que terminou a carreira
consagrado como um dos maiores goleiros da região sul e do Estado.
No
tempo em que o Osvaldo foi goleiro do Internacional eu jamais aceitei
vê-lo exatamente como ele era – sóbrio, competente,
irrepreensível na posição. Afinal, ele sempre se mostrou como uma
“ameaça” ao meu ídolo, e o meu ídolo era o Ósca e – pronto!
– não tinha espaço para mais ninguém.
Uma
ocasião, em 1981, o torneio de Futebol de Sete do G. E.
Internacional proporcionou a mim, como coadjuvante, jogar ao lado
dele, o grande Osvaldo Britto, e conhecer um pouco mais do jogador,
do craque, mas também do homem que durante anos eu conhecera apenas
superficialmente. No torneio, em que jogamos juntos pelo time do
Kbção (e fomos campeões!), eu tive a oportunidade de
conviver com um cidadão do bem, um camarada maravilhoso, com quem
aprendi lições sobre o futebol e sobre a vida.
Por tudo, eu guardo até hoje,
36 anos depois daquele campeonato, com o mais absoluto carinho, uma
fotografia em que aparecemos juntos – o Osvaldo, eu, e todos
aqueles que compuseram a imagem daquele time campeão. Ali surge
imponente, não o meu grande ídolo – o Ósca –, mas um sujeito
de camiseta negra, de luvas bem ajustadas, expressão serena, o
extraordinário goleiro que foi Osvaldo Britto, o homem que fez com
que durante a mocidade eu me recusasse a colocar a minha idolatria em
disputa.
E
eu tenho convicção de que agi corretamente, assim como tenho
certeza de que o Ósca, esteja onde estiver, entende perfeitamente o
significado de cada palavra deste texto.
Porque as lendas não se comparam, nem com os grandiosos, nem com os fantásticos, nem com os espetaculares. Uma lenda a gente não divide nem com quem - como o gigante Osvaldo Britto - já virou lenda também!
Porque as lendas não se comparam, nem com os grandiosos, nem com os fantásticos, nem com os espetaculares. Uma lenda a gente não divide nem com quem - como o gigante Osvaldo Britto - já virou lenda também!
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