sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

O “OUTRO”


No ano passado, mais ou menos por esta época, eu recebi um prêmio que muito me orgulhou, o “Troféu Oscar Falcão”, uma homenagem às pessoas que fizeram algo pelo esporte em Arroio Grande. A minha inclusão entre os indicados deu-se, segundo disseram, em razão da autoria do livro O “Clássico” – Uma história de paixão, publicado em 2011. Fiquei duplamente honrado: pelo reconhecimento da obra, mas também porque o troféu leva o nome do Oscar Falcão, o extraordinário goleiro do Esporte Clube Arroio Grande.
Eu nunca escondi de ninguém que o grande ídolo da minha mocidade, no futebol, foi ele, o “Ósca”, de quem muito se disse e se escreveu, aqui na Cidade e pelo Rio Grande afora. O professor Rui Carlos Ostermann, por exemplo, ao conhecer o Ósca numa ocasião em que esteve no Arroio Grande, resumiu para o jornal Zero Hora, no ano de 1982: “Chama-se Oscar, escrevo assim embora pronunciem o nome com acento grave no “O”. Já passa dos trinta e vai ficar como um mito encravado nas conversações intermináveis de Arroio Grande e adjacências”.
O Ósca sempre foi o meu ídolo, o mito, a lenda. Até porque, por ser torcedor Sacy, eu nunca aceitei comparações com outros jogadores, o meu herói era o Ósca e somente ele, para mim ele era absoluto, inigualável, incomparável. Os outros – os do “outro lado” – que escolhessem quem eles queriam idolatrar, ora bolas!
E que bom que eu sempre pensei assim, que bom que eu nunca quis dividir a minha idolatria.
Porque do “outro lado”, lá, do lado “deles”, também havia um craque, e – que provocação! – também goleiro, e – que diabos! – tão fabuloso, tão espetacular, tão maravilhoso quanto o meu ídolo, o herói que eu nunca quis colocar sob disputa com ninguém.
Do outro lado esteve, por anos e anos, vestindo a sagrada camiseta do Grêmio Esportivo Internacional (embora tivesse atuado também pelo E. C. Arroio Grande), o extraordinário goleiro Osvaldo Britto, um multicampeão amador e profissional que terminou a carreira consagrado como um dos maiores goleiros da região sul e do Estado.
No tempo em que o Osvaldo foi goleiro do Internacional eu jamais aceitei vê-lo exatamente como ele era – sóbrio, competente, irrepreensível na posição. Afinal, ele sempre se mostrou como uma “ameaça” ao meu ídolo, e o meu ídolo era o Ósca e – pronto! – não tinha espaço para mais ninguém.
Uma ocasião, em 1981, o torneio de Futebol de Sete do G. E. Internacional proporcionou a mim, como coadjuvante, jogar ao lado dele, o grande Osvaldo Britto, e conhecer um pouco mais do jogador, do craque, mas também do homem que durante anos eu conhecera apenas superficialmente. No torneio, em que jogamos juntos pelo time do Kbção (e fomos campeões!), eu tive a oportunidade de conviver com um cidadão do bem, um camarada maravilhoso, com quem aprendi lições sobre o futebol e sobre a vida.
Por tudo, eu guardo até hoje, 36 anos depois daquele campeonato, com o mais absoluto carinho, uma fotografia em que aparecemos juntos – o Osvaldo, eu, e todos aqueles que compuseram a imagem daquele time campeão. Ali surge imponente, não o meu grande ídolo – o Ósca –, mas um sujeito de camiseta negra, de luvas bem ajustadas, expressão serena, o extraordinário goleiro que foi Osvaldo Britto, o homem que fez com que durante a mocidade eu me recusasse a colocar a minha idolatria em disputa.
E eu tenho convicção de que agi corretamente, assim como tenho certeza de que o Ósca, esteja onde estiver, entende perfeitamente o significado de cada palavra deste texto. 
Porque as lendas não se comparam, nem com os grandiosos, nem com os fantásticos, nem com os espetaculares. Uma lenda a gente não divide nem com quem - como o gigante Osvaldo Britto - já virou lenda também!

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