sexta-feira, 30 de novembro de 2012

AME-O E DEIXE-O...

O programa “Louco por elas” exibido semanalmente pela Rede Globo (e que eu assisto, confessadamente, apenas para ver a Deborah Secco), surpreendeu no último episódio, ao trazer a presença da Maria Gadú que cantou, junto com parte do elenco, a esquecida “O seu amor”, uma canção do Gilberto Gil de 1976, interpretada pelos “Doces Bárbaros”, extraordinário grupo formado por Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethania e o próprio Gilberto Gil.
Na letra, Gil se utiliza de um slogan criado pela ditadura do período (“Brasil – Ame-o ou deixe-o”)* para fazer um jogo de palavras com o amor e com as possibilidades de relação que a gente poderia ter com o sentimento.
A canção (que eu não escutava há uns 20 anos, no mínimo) é realmente linda, um primor na sua estruturação, já que transita entre o simples e o profundo, tendo sido magistralmente interpretada pelos baianos à época, sendo agora revigorada na voz da Maria Gadú.
A página não tem o costume de postar links por aqui, mas a releitura de “O seu amor” me fez buscar a versão original de 1976; vale a pena escutar, pelo brilho, pela arte e pelo recado da composição (e isso que a Deborah Secco não era sequer nascida naquela época...).
O seu amor
Ame-o e deixe-o
Livre para amar
Livre para amar
Livre para amar
O seu amor
Ame-o e deixe-o
Ir aonde quiser
Ir aonde quiser
Ir aonde quiser
O seu amor
Ame-o e deixe-o brincar
Ame-o e deixe-o correr
Ame-o e deixe-o cansar
Ame-o e deixe-o dormir em paz
O seu amor
Ame-o e deixe-o
Ser o que ele é
Ser o que ele é
Ser o que ele é
* O slogan "Brasil - ame-o ou deixe-o" foi mais uma das canalhices do regime militar (1964-1985). Para impedir a contestação dos que se recusavam a aceitar o arbítrio, o autoritarismo, a tortura e as mortes patrocinadas pela ditadura, os golpistas de 64 criaram tal bordão (que, incrivelmente, circulava por todas as escolas e instituições governamentais do País) pretendendo, em última análise, transmitir o seguinte recado: ou vocês aceitam o país como ele é (isto é, com um governo ditatorial) ou se mudem daqui, questionar é que não pode. Deu no que deu...

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