O
programa “Louco por elas” exibido semanalmente pela Rede Globo (e
que eu assisto, confessadamente, apenas para ver a Deborah Secco),
surpreendeu no último episódio, ao trazer a presença da Maria Gadú
que cantou, junto com parte do elenco, a esquecida “O seu amor”,
uma canção do Gilberto Gil de 1976, interpretada pelos “Doces
Bárbaros”, extraordinário grupo formado por Caetano Veloso, Gal
Costa, Maria Bethania e o próprio Gilberto Gil.
Na
letra, Gil se utiliza de um slogan criado pela ditadura do período
(“Brasil – Ame-o ou deixe-o”)* para fazer um jogo de
palavras com o amor e com as possibilidades de relação que a gente poderia ter com o sentimento.
A
canção (que eu não escutava há uns 20 anos, no mínimo) é realmente
linda, um primor na sua estruturação, já que transita entre o
simples e o profundo, tendo sido magistralmente interpretada pelos
baianos à época, sendo agora revigorada na voz da Maria Gadú.
A
página não tem o costume de postar links por aqui, mas a releitura de “O
seu amor” me fez buscar a versão original de 1976; vale a pena
escutar, pelo brilho, pela arte e pelo recado da composição (e isso
que a Deborah Secco não era sequer nascida naquela época...).
O seu amor
Ame-o
e deixe-o
Livre
para amar
Livre
para amar
Livre
para amar
O
seu amor
Ame-o
e deixe-o
Ir
aonde quiser
Ir
aonde quiser
Ir
aonde quiser
O
seu amor
Ame-o
e deixe-o brincar
Ame-o
e deixe-o correr
Ame-o
e deixe-o cansar
Ame-o
e deixe-o dormir em paz
O
seu amor
Ame-o
e deixe-o
Ser
o que ele é
Ser
o que ele é
Ser
o que ele é
*
O slogan "Brasil
- ame-o ou deixe-o" foi
mais uma das canalhices do regime militar (1964-1985). Para impedir a
contestação dos que se recusavam a aceitar o arbítrio, o
autoritarismo, a tortura e as mortes patrocinadas pela ditadura, os
golpistas de 64 criaram tal bordão (que, incrivelmente, circulava
por todas as escolas e instituições governamentais do País)
pretendendo, em última análise, transmitir o seguinte recado: ou
vocês aceitam o país como ele é (isto é, com um governo
ditatorial) ou se mudem daqui, questionar é que não pode. Deu no
que deu...
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