quarta-feira, 15 de agosto de 2012

GAZETA DE LISBOA VENDE HERANÇA...


Quem me enviou o material foi o Sérgio Canhada.
O anúncio aí de cima foi publicado no jornal Gazeta de Lisboa, nº 188, de 10/08/1827*, pg. 4., há cento e oitenta e cinco anos, portanto.
Trata-se da oferta de venda de uma suposta herança no Arroio Grande, Rio Grande do Sul da América, por 18 contos de réis
O valor, se não era nenhuma fortuna, também não era tão pouco, haja vista que daria para comprar quase 5.000 ha. de terras por aqui, com a ressalva de que os campos valiam bem pouco naquela época (o valor de uma panela grande de ferro, por exemplo – 8 mil réis – dava para comprar no mínimo duas hectares de campo).
É pouco provável que se venha algum dia descobrir de quem era a tal herança, se existia ou não, e se acabou mesmo vendida pelo corretor do além-mar.
Mas que tem um cheiro de velhacaria nesse bacalhau, ah isso tem. Publicar anúncio de venda de “uma herança” do inóspito Arroio Grande do início do Século XIX na tradicional Gazeta da civilizadíssima Lisboa de 1827 não parece ser anedota, não; alguém pretendia lucrar nessa história, será que conseguiu?
* Em 1827, data do anúncio, o Arroio Grande, cujo povoamento começara com o erguimento de uns “arranchamentos” lá por 1792 (embora se diga oficialmente que “a cidade foi iniciada no ano de 1803, com Manuel Jerônimo de Souza”[1] – um açoriano), era, ainda, distrito – primeiro de Rio Grande (até 1832), e, desse ano em diante, de Jaguarão (até 1873, quando AG foi elevado à categoria de Vila).
Não obstante, já era esta região denominada à época de “Freguesia do Arroio Grande”, ou “Espírito Santo do Arroio Grande”, e assim permaneceu até 1832 quando ocorreu a emancipação de Jaguarão (esta chamada inicialmente de Guarda da Lagoa e do Serrito, depois chamada de “Espírito Santo do Serrito, ou Espírito Santo da Lagoa”).
Conforme o Sérgio Canhada “já em 1816 este lugar se chamava Arroio Grande, pois no 2º casamento do Souza Gusmão, em 23/5/1816, no Povo Novo, com Maria Pereira (a “tal” Maria Pereira das Neves), ele declara que é 'viúvo que ficou por falecimento de Laureana Maria, sepultada no cemitério do Arroio Grande, distrito da Freguesia do Espírito Santo da Lagoa”.
Segundo os historiadores, até o ano do anúncio, 1827, a região vivia um período aparentemente tranquilo, “brutalmente truncado pelos desdobramentos da guerra da Cisplatina, e muito especialmente pela invasão das forças argentino-uruguaias, em janeiro de 1828” [2].
Jaguarão se aprestava para transformar-se em frente de batalha, muito a contra-gosto de seus habitantes. (…) Todavia, a 7 de janeiro de 1828, atendendo a novos planos do comando geral do exército, as forças se retiraram de Jaguarão para as pontas do Arroio Grande, desprotegendo por completo a jovem povoação. O resultado imediato e lógico dessa manobra desastrada (…) foi o avanço do exército argentino e a ocupação de Jaguarão” [2].
1. Cfe. Alvaro O. Caetano – Município de Arroio Grande – 1945.
2. Cfe. Sérgio da Costa Franco – Origens de Jaguarão – 1980.
Nesse quadro, portanto, de sucessivas escaramuças com os castelhanos que viviam ameaçando tomar conta desta parte da região, foi onde o nosso patrício português (um pouco antes, é verdade, e certamente sem saber dos interesses de Lavalleja, de Rivera e do Gal. Paz), anunciou o “grande negócio” nas nobre páginas da Gazeta de Lisboa – quem quiser comprar uma herança existente no Arroio Grande do Rio Grande do Sul da América...


2 comentários:

Solismar Venzke Filho disse...

Interessante....os velhacos são antigos nesse meu povoado. Entretanto, reconhecesse que a oportunidade de vender as terras era um fato real e desfazer de uma terra além mar era necessário na época. A dúvida se as terras existiam ...bom, o castelhano Timóteo provavelmente seria o corretor desta terra. Finalizo agradecendo ao Sérgio Canhada e a você, Juninho por nós proporcionar estes conhecimentos sobre nossa querida terra, chamada Arroio Grande. Solismar.

Pedro Jaime Bittencourt Junior disse...

Valeu Solismar.
Falando no Sérgio Canhada, vem mais por aí.
Ele está preparando para nós um material sobre como era chamada esta região (o nome) onde hoje fica o Arroio Grande.
Vai demorar um pouco, pois exige trabalho, paciência, pesquisa (o Sérgio é um historiador exigente), mas assim que estiver pronto, ou com dados mais concretos, a gente vai publicar aqui na página, como sempre.
Abço. e aparece!