Nesses anos todos, sempre que eu me afastei por um tempo
um pouco maior de Arroio Grande, coisa de duas, três semanas, um mês no
máximo, a primeira pessoa que eu pensava encontrar quando dos meus
retornos à cidade, era o Carlos Francisco Caetano, o popular Cizico.
O Cizico foi um símbolo do Arroio Grande. Um cara
popular, conhecido e conhecedor de todos, o Cizico foi um personagem
da cidade.
Um sujeito simples, alegre e conversador, e sempre,
desde muito cedo, com inúmeras histórias para contar.
Guri de mandalete, estafeta, secretário, auxilar de
pedreiro, desportista, anotador de jogo de azar, inspetor de
disciplina, o Cizico fez de tudo um pouco na vida, e conquistou a
amizade e a admiração de todos, convivendo com os diversos grupos
sociais do Arroio Grande.
Folclórico, criou a fama de “pé frio”, o que eu
mesmo desmenti num texto que já devo ter publicado aqui na página. Para os que não leram a crônica, esclareço: foi com ele, e somente
com ele, que, há mais de 20 anos, eu consegui ganhar uma única vez
no “jogo do bicho” em toda a minha vida. E acertando na “cabeça”,
para não deixar dúvidas.
Ganhei num sábado, na centena do 1º prêmio da
Loteria Federal. Depois, na segunda-feira, já não havia dinheiro
algum, tinha sido todo ele gasto na própria comemoração, nos bares
e nos cabarés da cidade, em bebidas, cigarros e presentes para as
“chinas”, numa festa interminável, com a participação dos
melhores amigos e com o Cizico junto, é claro.
Tinha me dado sorte o “Negrinho”, assim como sempre
deu sorte ao Grêmio e ao Caturrita, os seus times de coração. Ou
não foi com o Cizico assistindo os jogos desses clubes que eles
conseguiram as suas maiores conquistas? Não foi com ele torcendo
junto – no estádio, ou pelo rádio ou pela televisão – que o
Renato Portallupi, seu grande ídolo, se tornou o maior jogador da
história do Grêmio?
E na política, então? Quem não lembra do Cizico
ajudando a eleger o Ermínio prefeito em 96? E fazendo da “mana”
Silvana vereadora, e elegendo deputados e senadores... Distribuindo
“santinho”, correndo atrás dos votos e ganhando inúmeras
eleições. Isso é ser “pé frio”? Não, claro que não, o
Cizico era pé quente e a nossa maior sorte foi ter convivido com
ele, foi ter privado da sua amizade.
Por isso, quando recebi a notícia da sua morte, na
madrugada chuvosa de domingo para segunda-feira, apesar da tristeza,
apesar da dor dos seus amigos e familiares, fiquei pensando que o
Cizico cumpriu, e bem, o seu ciclo por aqui. Deixou muitas histórias
e uma boa lembrança para todos nós.
Por compromissos profissionais inadiáveis, não pude
ir ao enterro e sequer ao velório do meu amigo Carlos Francisco. Mas
também, o que isso importa? Afinal, quando dos meus retornos ao
Arroio Grande, sejam eles quantos forem, eu deverei me encontrar
primeiro e antes de mais nada com o Cizico, pois bastará entrar na
cidade e o personagem que ele foi estará me acompanhando – da
Visconde de Mauá a Dr. Monteiro, do Promorar ao Gitão, pela cidade
toda, pela vida inteira, sempre.
4 comentários:
Belíssima homenagem Doutor. Já publiquei a crônica em meu Grupo no Facebook. Abraços.
Que bom, amigo Carlos.
Assim essa lembrança do que foi exatamente o Cizico - um cara amigo de todos, não havia quem não gostasse dele e não havia de quem ele não gostasse - se "espraia" mais ainda; quem o conheceu sabe que ele é realmente merecedor dessas homenagens, ainda que pequenas, mas, sobretudo, sinceras.
Abraços.
Bom, Juninho depois dessas palavras, fica minhas lagrimas de respeito e de saudade. Lembro-me da caminha típico do Cizico e de suas travessuras mesmo com idade avançadas para tal. A tradicional corrida da São Silvina, organizada pelo Nico Ananã no final do ano. Em uma delas Cizico chega em sexto lugar, com a cara de dor pelo desgaste físico, deixando todos admirados pela façanha. Minutos depois chegou o Galinheiro (Professor Ivan), cotadíssimo a uma medalha no peito, mas sabendo que o Cizico tinha chegado a sua frente, dedurou. Cizico tinha pegado carona na carroceria de um caminhão, e ao descer foi visto pelo galinheiro que vinha metros atrás. O Nico ficou uma fera com o Cizico, pois rompeu com credibilidade da tradicional corrida.
Um abraço a todos por ai.
Solismar Venzke Filho.
Valeu, Solismar.
O Cizico - símbolo da nossa cidade, grande amigo de todos - já é uma doce e carinhosa lembrança entre nós; que o reconhecimento daquilo que ele representou para nós, seus amigos, seja verdadeiramente eterno.
Um abraço.
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