sábado, 23 de junho de 2012

CARLOS FRANCISCO (CIZICO)

Nesses anos todos, sempre que eu me afastei por um tempo um pouco maior de Arroio Grande, coisa de duas, três semanas, um mês no máximo, a primeira pessoa que eu pensava encontrar quando dos meus retornos à cidade, era o Carlos Francisco Caetano, o popular Cizico.
O Cizico foi um símbolo do Arroio Grande. Um cara popular, conhecido e conhecedor de todos, o Cizico foi um personagem da cidade.
Um sujeito simples, alegre e conversador, e sempre, desde muito cedo, com inúmeras histórias para contar.
Guri de mandalete, estafeta, secretário, auxilar de pedreiro, desportista, anotador de jogo de azar, inspetor de disciplina, o Cizico fez de tudo um pouco na vida, e conquistou a amizade e a admiração de todos, convivendo com os diversos grupos sociais do Arroio Grande.
Folclórico, criou a fama de “pé frio”, o que eu mesmo desmenti num texto que já devo ter publicado aqui na página. Para os que não leram a crônica, esclareço: foi com ele, e somente com ele, que, há mais de 20 anos, eu consegui ganhar uma única vez no “jogo do bicho” em toda a minha vida. E acertando na “cabeça”, para não deixar dúvidas.
Ganhei num sábado, na centena do 1º prêmio da Loteria Federal. Depois, na segunda-feira, já não havia dinheiro algum, tinha sido todo ele gasto na própria comemoração, nos bares e nos cabarés da cidade, em bebidas, cigarros e presentes para as “chinas”, numa festa interminável, com a participação dos melhores amigos e com o Cizico junto, é claro.
Tinha me dado sorte o “Negrinho”, assim como sempre deu sorte ao Grêmio e ao Caturrita, os seus times de coração. Ou não foi com o Cizico assistindo os jogos desses clubes que eles conseguiram as suas maiores conquistas? Não foi com ele torcendo junto – no estádio, ou pelo rádio ou pela televisão – que o Renato Portallupi, seu grande ídolo, se tornou o maior jogador da história do Grêmio?
E na política, então? Quem não lembra do Cizico ajudando a eleger o Ermínio prefeito em 96? E fazendo da “mana” Silvana vereadora, e elegendo deputados e senadores... Distribuindo “santinho”, correndo atrás dos votos e ganhando inúmeras eleições. Isso é ser “pé frio”? Não, claro que não, o Cizico era pé quente e a nossa maior sorte foi ter convivido com ele, foi ter privado da sua amizade.
Por isso, quando recebi a notícia da sua morte, na madrugada chuvosa de domingo para segunda-feira, apesar da tristeza, apesar da dor dos seus amigos e familiares, fiquei pensando que o Cizico cumpriu, e bem, o seu ciclo por aqui. Deixou muitas histórias e uma boa lembrança para todos nós.
Por compromissos profissionais inadiáveis, não pude ir ao enterro e sequer ao velório do meu amigo Carlos Francisco. Mas também, o que isso importa? Afinal, quando dos meus retornos ao Arroio Grande, sejam eles quantos forem, eu deverei me encontrar primeiro e antes de mais nada com o Cizico, pois bastará entrar na cidade e o personagem que ele foi estará me acompanhando – da Visconde de Mauá a Dr. Monteiro, do Promorar ao Gitão, pela cidade toda, pela vida inteira, sempre.

4 comentários:

Carlos Ricardo Souza disse...

Belíssima homenagem Doutor. Já publiquei a crônica em meu Grupo no Facebook. Abraços.

Pedro Jaime Bittencourt Junior disse...

Que bom, amigo Carlos.
Assim essa lembrança do que foi exatamente o Cizico - um cara amigo de todos, não havia quem não gostasse dele e não havia de quem ele não gostasse - se "espraia" mais ainda; quem o conheceu sabe que ele é realmente merecedor dessas homenagens, ainda que pequenas, mas, sobretudo, sinceras.
Abraços.

Solismar disse...

Bom, Juninho depois dessas palavras, fica minhas lagrimas de respeito e de saudade. Lembro-me da caminha típico do Cizico e de suas travessuras mesmo com idade avançadas para tal. A tradicional corrida da São Silvina, organizada pelo Nico Ananã no final do ano. Em uma delas Cizico chega em sexto lugar, com a cara de dor pelo desgaste físico, deixando todos admirados pela façanha. Minutos depois chegou o Galinheiro (Professor Ivan), cotadíssimo a uma medalha no peito, mas sabendo que o Cizico tinha chegado a sua frente, dedurou. Cizico tinha pegado carona na carroceria de um caminhão, e ao descer foi visto pelo galinheiro que vinha metros atrás. O Nico ficou uma fera com o Cizico, pois rompeu com credibilidade da tradicional corrida.
Um abraço a todos por ai.
Solismar Venzke Filho.

Pedro Jaime Bittencourt Junior disse...

Valeu, Solismar.
O Cizico - símbolo da nossa cidade, grande amigo de todos - já é uma doce e carinhosa lembrança entre nós; que o reconhecimento daquilo que ele representou para nós, seus amigos, seja verdadeiramente eterno.
Um abraço.