8 de maio de 1912. Há cem anos nascia, em Pelotas, Ápio Cláudio de Lima Antunes.
Formado em Direito em 19 de setembro de 1935 (homenagem à Revolução Farroupilha, segundo dizia), Ápio Antunes, foi, no decorrer da sua extensa trajetória como advogado, um exemplo de correção, de sabedoria e de coragem.
Professor universitário "cassado" por um decreto dos militares, Ápio, antigo militante do Partido Comunista Brasileiro - PCB - foi perseguido pela ditadura de março de 64, tendo que viver exilado no Uruguay por um bom período. Posteriormente, retornou para o Brasil e para Pelotas, respondeu dois IPMs (Inquérito Policial Militar), sendo, ao final, absolvido da acusação de "traição a pátria" (uma imputação genérica que os militares costumavam fazer aos opositores do regime), embora tivesse perdido a cátedra na Universidade Federal de Pelotas.
Advogado brilhante, especialmente como criminalista, Ápio costumava ser elegante com os colegas e era duro e intransigente na defesa dos seus constituintes.
Amigo pessoal do pai do autor desta página, Ápio Antunes, que atuou no Tribunal do Júri junto aos maiores tribunos do Rio Grande do Sul e do Brasil - Eloar Guazzelli, Oswaldo Lia Pires, Mathias Nalgestein e Amadeu Weinman, entre diversos outros - costumava dedicar rasgados louvores ao colega Pedro Jaime Bittencourt, como os elogios registrados na publicação Pelotas em Revista, e que integram este texto, quando Ápio comentou sobre um júri que muito o impressionou, ocorrido nos anos 1980.
(Depoimento de Ápio Cláudio de Lima Antunes à publicação Pelotas em Revista - maio de 2000):
"...Mas o promotor apelou e veio um terceiro júri, do qual o Guazzelli não quis participar. Não sei o motivo. Então, no lugar dele, tive o auxílio do famoso advogado de Arroio Grande, chamado Pedro Jayme Bittencourt. Ele é um homem extraordinário pelo seu talento, pela sua cultura, sua erudição e sua oratória. Ele é um orador extraordinário, fantástico. É o maior orador judiciário que eu já vi na minha longa carreira de advogado criminalista. Cheguei a trabalhar com o mais famoso advogado brasileiro, o dr. Sobral Pinto. Fiz júris com Sobral Pinto e posso dizer que Pedro Bittencourt era superior a Sobral Pinto. Ao terminar o júri, mais uma vez o resultado foi a absolvição. O caso foi encerrado." (pgs. 19 e 20 - cópias que ilustram esta postagem).
Em resposta aos elogios do Ápio, o Pedro - que tinha pelo velho colega e professor uma deferência igualmente extraordinária -, costumava dizer: "Doutor, o Sr. é muito gentil, muito generoso, mas também bastante exagerado em suas palavras". Ao que o Dr. Ápio retrucava: "Para a sua inteligência e a sua oratória não existem exageros, doutor"...
E assim seguiam os dois, numa conversa de gigantes, de homens cultos, sábios, eruditos, homens de um tipo que, infelizmente, já não existem mais, da estirpe de um Ápio Cláudio de Lima Antunes, um "Ás do júri", como referido pela publicação, na verdade um Ás do advocacia, um Ás do direito, um Ás da vida!
O Dr. Ápio Cláudio de Lima Antunes morreu em 2003, aos 91 anos de idade.