sexta-feira, 13 de abril de 2012

PERSONAGENS DO ARROIO GRANDE (VII) - JOÃO TEIXEIRA, O "MARTA ROCHA"

A sequência do verso "minh'alma clama a liberdade em que vivi", onde o Basílio diz - "sabe que existe outro caminho por aí", na canção Delírio (postagem abaixo), tem a sua origem numa frase de João Fernandes Teixeira - o Marta Rocha - figura ímpar da Cidade, que viveu em Arroio Grande de 1942 até 11/12/1978, quando faleceu precocemente aos 36 anos de idade.
"Eu sei que existe outro caminho por aí!" - no original - era uma frase que o Marta Rocha utilizava com certa frequência, referindo-se ao período da ditadura militar que se instalou no Brasil (1964-1985), e que, especialmente no período em que o Marta viveu o seu amadurecimento político, literalmente ditava os caminhos das pessoas na Cidade, no Estado e no País.
Em razão disso, isto é, da aspereza e do confronto característicos do período, Marta Rocha costumava apontar o dedo para as pessoas - seus interlocutores ou meros assistentes dos verdadeiros shows de oratória que ele proporcionava - disparando a expressão contundente, cunhada na luta de ideias que a esquerda travava contra a ditadura política e policial de então.
Inteligente e falastrão, irreverente e beberrão*, o Marta - que tinha esse apelido em razão do longos cabelos loiros, que os amigos comparavam aos da conhecida beldade baiana Marta Rocha, eleita Miss Brasil no ano de 1954, mas que se tornaria famosa por perder o título de Miss Universo nos EUA por alegadas "duas polegadas a mais" (uma versão divulgada por um jornalista da Revista "O Cruzeiro", jamais comprovada, mas que mexeu com o orgulho nacional) -, João Teixeira foi um tipo extraordinário da Cidade, especialmente pelo que representou no cenário político, como "guru" da esquerda local - do antigo trabalhismo ao MDB.
Ficaram célebres os discursos que Marta Rocha e Pedro Jayme Bittencourt - ambos exímios oradores - desfilaram nos palanques da cidade nos anos 60 e 70, quando, se utilizando de extraordinários argumentos retóricos, desafiavam o medo infundido pelos poderosos da época, e conclamavam as pessoas a buscarem "outro caminho" para o Arroio Grande, para o Rio Grande e para o Brasil, especialmente através do voto.
Assim os ativistas políticos ajudaram a eleger os irmãos Lauro (1963) e Ney Cavalheiro (1972) como Prefeitos de Arroio Grande (únicos prefeitos "de esquerda" eleitos na cidade em mais de 5 décadas), assim eles encantaram gerações de espectadores que não cansam, até hoje, de exaltar os dotes de oratória da dupla de tribunos.
De ofício "Rábula" (espécie de advogado que pratica a profissão sem ser diplomado), Marta Rocha foi também desportista, inclusive presidindo o Grêmio Esportivo Internacional logo em seguida à passagem dos primeiros 25 anos do Clube Caturrita (1971), mas foi mesmo como ativista político e como mentor intelectual de parte da geração da sua época que João Teixeira acabou lembrado, e, também, por um certo mistério que a sua personalidade "anti-social" deixou, fruto, ainda, da sua breve mas marcante passagem como personagem da cidade.
*Um pouco antes da morte de Marta Rocha, o autor da página, então com apenas 17 anos de idade, e quase sempre acompanhado do músico Basílio Conceição, costumava encontrar-se com o famoso personagem no Bar Quitandinha, localizado bem no cruzamento das ruas Dr. Dionísio de Magalhães e Júlio de Castilhos, para, entre discussões intermináveis e beberagens homéricas, testemunhar todo o talento e o extraordinário poder de retórica do homem que marcou toda uma época do Arroio Grande.
- A página ainda está esperando uma fotografia melhor do Marta Rocha, prometida que foi por amigos e familiares dele; a foto lá de cima é um “recorte” e mostra o Marta ao fundo do Bar “Meu Cantinho”, provavelmente entre os anos 1967/1969.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bem, conheci o Marta, quando das várias visitas dele à cidade, através do amigo comum, Delmar De La Torre. Incontáveis vezes nos encontramos no antigo recinto do Restaurante Alles Blau, na Sete de Setembro, no local onde hoje é a Loja Blumenau e as conversas regadas a muito álcool, quando o rábula afirmava que "os porcos comiam e, os homens, bebiam e, por isso, apenas pagava a conta etílica". Bons tempos aqueles, que somente hoje, ao longo desses anos todos, quase meio século passado, percebo a importância de certos encontros ... Isto aconteceu em Pelotas daquele tempo ...