quinta-feira, 8 de março de 2012

SOBRE MULHERES E MULHERES

(Para a Maria Eduarda, para a Marília Kosby, para a Míriam Marroni, e para a Verônica, naturalmente)

A minha mulher não nasceu para ser dona de casa, mas sim para ser a dona da casa, e dona das ruas e das estradas, e dos campos e das cidades, e dos arroios e dos mares, também.

A minha mulher nasceu para ser dona de tudo – o que é elevado e o que é pequeno, o que é forte e o que é frágil –, a minha mulher nasceu para ser dona de si própria, da sua razão e dos seus sentimentos, e para ser a dona do meu coração, também.

A minha mulher nasceu para ser Maria, nasceu para ser poesia, nasceu para ser política, para aprender e para ensinar, mas nasceu, a minha mulher, sobretudo para ser mulher, todos os dias.

Ela – a minha mulher – nasceu para ser exibida, nasceu para andar bem vestida, e para andar com pouca roupa quando está de bem com o corpo; a minha mulher nasceu para estar de bem o corpo, nasceu para viver de bem com a vida.

A minha mulher nasceu para ser Bruna Lombardi (“uma mulher é feita de mistérios, tudo se esconde: os sonhos, as axilas, a vagina, ela envelhece e esconde uma menina, que permanece onde ela está agora...”), nasceu para ser Elizabeth Bishop (“tantas coisas contém em si o acidente, de perdê-las, que perder não é nada sério; perca um pouco a cada dia, aceite austero, a chave perdida bestamente, a arte de perder não é nenhum mistério...”); a minha mulher nasceu para ser diva, nasceu para ser cinema, nasceu para ser teatro, ela é pura dramaturgia, todos os dias.

(A minha mulher não nasceu sequer para ser minha, ela não veio ao mundo para ter qualquer dono, nem para viver como uma bolachinha decorativa de um pacote qualquer; a minha mulher – eu já disse – nasceu para ser dona de si mesma, e isso é tudo!).

Por isso é que, todos os dias, quando eu olho para a minha mulher – que se chama Maria, que se chama Marília, que se chama Míriam (e que se chama Marcela, que se chama Mariela, que se chama Maristela...), e que se chama Verônica, naturalmente – eu percebo que “de mulher” não é possível saber, sobre mulheres não existem verdades (“você diz a verdade e a verdade é o seu dom de iludir, como pode querer que a mulher vá viver sem mentir”); uma mulher a gente deve apenas acariciar e celebrar, e pedir-lhe licença e tempo, e dedicar a vida inteira para tentar descobri-la, no pouco que ela tem de cada mulher, no muito que ela tem de si mesma – indócil, picante e orgulhosa – simples e eternamente.

4 comentários:

Anônimo disse...

Linda!
Uma das homenagens mais bonitas que já li para as mulheres.
Que Deus ilumine a sua sensibilidade e o amor que irradia das suas palavras.
Parabéns.

Pedro Jaime Bittencourt Junior disse...

A generosidade das palavras permite até que o "anônimo" se identifique; de qualquer forma, obrigado pelos elogios e apareça.

Dolores Ñandú disse...

A minha mulher te agradece.
Um abraço!

Pedro Jaime Bittencourt Junior disse...

Um abraço, Marília;
feliz de quem te tem por perto, pois que contigo até um simples comentário vira poesia.
Estamos com saudades!