quarta-feira, 14 de março de 2012

DUAS MULHERES


Esclarecendo as referências feitas aos textos da escritora Bruna Lombardi (São Paulo, 1º de agosto de 1951) e da poetisa americana Elizabeth Bishop (8.2.1911 - 6.10.1979) insertos na crônica “Sobre mulheres e mulheres” (postagem abaixo), o primeiro – escrito por Bruna – tem o título de “Uma mulher”, e o segundo, de autoria de Bishop, chama-se “A arte de perder”; a transcrição integral de ambos segue agora para apreciação e deleite dos leitores. (O poema “A arte de perder” possui diversas traduções que lhe alteram completamente o sentido; esta, a do post, é a versão preferida do autor da página).


UMA MULHER (Bruna Lombardi)


Uma mulher caminha nua pelo quarto

É lenta como a luz daquela estrela

É tão secreta uma mulher que, ao vê-la,

Nua no quarto, pouco se sabe dela


A cor da pele, os pelos, os cabelos,

O jeito de pisar, algumas marcas,

A marca arredondada das suas ancas,

A parte onde a carne é mais branca...


Uma mulher é cheia de mistérios

Tudo se esconde: os sonhos, as axilas, a vagina...

Ele envelhece e esconde uma menina

Que adormece onde ela está agora


E o homem que descobre uma mulher

Será sempre o primeiro a ver a aurora.



A ARTE DE PERDER (Elizabeth Bishop)


A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.



Perca um pouco a cada dia. Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.



Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subsequente
Da viagem não feita. Nada disso é sério.



Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.



Perdi duas cidades lindas. E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.



Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.”

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