sábado, 31 de março de 2012
HÁ 30 ANOS...
quarta-feira, 28 de março de 2012
sábado, 24 de março de 2012
DETENÇÃO DE PODER
Os piores são os professores de matemática, seguidos ‘mui’ de perto pelos de física. Depois, vêm os mecânicos, os economistas e os advogados; por último, os técnicos em informátic, estes atualmente já meio contraditados pelas próprias informações da internet.
Todos eles representam um tipo de profissional que detém o conhecimento inacessível para a maioria dos mortais, e, o que é pior, todos eles fazem de tudo para que ninguém, ou – vá lá! – muito pouca gente, se aproprie desse conhecimento.
São os “detentores do poder”, aqueles que conhecem o que de mais complicado existe: as fórmulas matemáticas e físicas, os motores dos automóveis, as contas públicas, os pergaminhos legais e os transistores dos computadores.
Eu nunca soube de nenhum professor de matemática ou de física que fizesse questão absoluta de simplificar aquelas fórmulas complexas expostas no quadro negro. Normalmente, eles se colocam a uma distância segura dos alunos e quando interagem com a platéia é para sentenciar: “É bem fácil, muito simples, mas se vocês não entenderam até agora...”.
O mecânico é semelhante, só muda de localização. Normalmente, ele sai debaixo de um carro (após uma meia hora de espera do cliente, parado na porta da oficina...), depois escuta (quase sempre olhando para o chão) a informação sobre o problema do veículo, para, finalmente, declarar: “Deve ser... (tem o clássico ‘a rebimboca da parafuseta’) daqui a duas horas 'ta resolvido”. Dez horas depois, quando o carro finalmente fica pronto, a gente paga e vai embora, sem saber exatamente o que aconteceu, mas pelo menos sai feliz com o conserto.
Já os economistas, os advogados e os técnicos em informática têm o mesmo tipo, de falar muito, quanto mais possível, de maneira que a gente se atrapalha logo quando está começando a compreender o que eles dizem, até ficar novamente sem entender nada.
Detenção de poder – todo mundo gosta de exercer, ao menos por um dia, nem que seja como “leão de chácara”, que decide ali, na hora, no ato, se o ‘di menor’ pode ou não entrar no cabaré.
Detenção de poder – estar com um microfone na mão, usar um espaço no jornal para criticar todo mundo, tudo com a certeza de que as pessoas atingidas não terão a mesma oportunidade.
Detenção de poder – os professores de matemática e de física têm, os economistas e os advogados têm, os mecânicos e os técnicos em informática têm, os radialistas e os jornalistas têm, quase todos possuem, ainda que pelo conhecimento que adquiriram ao longo das suas vidas como profissionais.
Já os políticos são aqueles que melhor experimentam essa sensação de “detenção do poder”, muito embora a imensa maioria deles não saiba nada de matemática, nem de física, nem de mecânica, nem de economia, nem de informática, nem de jornalismo, nem de direito, nem de nada!
Mas, afinal, se até os “leões de chácara” podem...
terça-feira, 20 de março de 2012
O GOVERNADOR EM TEMPOS DE CÓLERA
sexta-feira, 16 de março de 2012
A CIDADE HEROICA NÃO PODE SE RENDER A GOLPISTAS!
quarta-feira, 14 de março de 2012
DUAS MULHERES
Esclarecendo as referências feitas aos textos da escritora Bruna Lombardi (São Paulo, 1º de agosto de 1951) e da poetisa americana Elizabeth Bishop (8.2.1911 - 6.10.1979) insertos na crônica “Sobre mulheres e mulheres” (postagem abaixo), o primeiro – escrito por Bruna – tem o título de “Uma mulher”, e o segundo, de autoria de Bishop, chama-se “A arte de perder”; a transcrição integral de ambos segue agora para apreciação e deleite dos leitores. (O poema “A arte de perder” possui diversas traduções que lhe alteram completamente o sentido; esta, a do post, é a versão preferida do autor da página).
UMA MULHER (Bruna Lombardi)
Uma mulher caminha nua pelo quarto
É lenta como a luz daquela estrela
É tão secreta uma mulher que, ao vê-la,
Nua no quarto, pouco se sabe dela
A cor da pele, os pelos, os cabelos,
O jeito de pisar, algumas marcas,
A marca arredondada das suas ancas,
A parte onde a carne é mais branca...
Uma mulher é cheia de mistérios
Tudo se esconde: os sonhos, as axilas, a vagina...
Ele envelhece e esconde uma menina
Que adormece onde ela está agora
E o homem que descobre uma mulher
Será sempre o primeiro a ver a aurora.
A ARTE DE PERDER (Elizabeth Bishop)
quinta-feira, 8 de março de 2012
SOBRE MULHERES E MULHERES
A minha mulher não nasceu para ser dona de casa, mas sim para ser a dona da casa, e dona das ruas e das estradas, e dos campos e das cidades, e dos arroios e dos mares, também.
A minha mulher nasceu para ser dona de tudo – o que é elevado e o que é pequeno, o que é forte e o que é frágil –, a minha mulher nasceu para ser dona de si própria, da sua razão e dos seus sentimentos, e para ser a dona do meu coração, também.
A minha mulher nasceu para ser Maria, nasceu para ser poesia, nasceu para ser política, para aprender e para ensinar, mas nasceu, a minha mulher, sobretudo para ser mulher, todos os dias.
Ela – a minha mulher – nasceu para ser exibida, nasceu para andar bem vestida, e para andar com pouca roupa quando está de bem com o corpo; a minha mulher nasceu para estar de bem o corpo, nasceu para viver de bem com a vida.
A minha mulher nasceu para ser Bruna Lombardi (“uma mulher é feita de mistérios, tudo se esconde: os sonhos, as axilas, a vagina, ela envelhece e esconde uma menina, que permanece onde ela está agora...”), nasceu para ser Elizabeth Bishop (“tantas coisas contém em si o acidente, de perdê-las, que perder não é nada sério; perca um pouco a cada dia, aceite austero, a chave perdida bestamente, a arte de perder não é nenhum mistério...”); a minha mulher nasceu para ser diva, nasceu para ser cinema, nasceu para ser teatro, ela é pura dramaturgia, todos os dias.
(A minha mulher não nasceu sequer para ser minha, ela não veio ao mundo para ter qualquer dono, nem para viver como uma bolachinha decorativa de um pacote qualquer; a minha mulher – eu já disse – nasceu para ser dona de si mesma, e isso é tudo!).
Por isso é que, todos os dias, quando eu olho para a minha mulher – que se chama Maria, que se chama Marília, que se chama Míriam (e que se chama Marcela, que se chama Mariela, que se chama Maristela...), e que se chama Verônica, naturalmente – eu percebo que “de mulher” não é possível saber, sobre mulheres não existem verdades (“você diz a verdade e a verdade é o seu dom de iludir, como pode querer que a mulher vá viver sem mentir”); uma mulher a gente deve apenas acariciar e celebrar, e pedir-lhe licença e tempo, e dedicar a vida inteira para tentar descobri-la, no pouco que ela tem de cada mulher, no muito que ela tem de si mesma – indócil, picante e orgulhosa – simples e eternamente.