domingo, 24 de julho de 2011

MOTIVAÇÕES

Eu confesso que não estava muito motivado para voltar a escrever em jornal, ao menos por agora. Voltar a escrever não, voltar a publicar, que essa coisa de escrever é vício, mesmo em amadores, e a gente não consegue parar depois que começa as primeiras linhas. Eu nunca deixei de escrever, mas parei de publicar, por falta de motivação.
A vida da gente é feita de motivações. Felizes aqueles que se motivam com o seu cotidiano: acordar, comer, trabalhar, comer, olhar a novela, ver o futebol, comer, trepar, dormir... não necessariamente nessa escala. Se bem que os tempos atuais estão nos fazendo mais ursos do que coelhos, só para comparar com os bichinhos mais simpáticos.
Eu gostaria de viver assim, motivado pelo meu dia-a-dia, satisfeito com o meu cotidiano de urso, mas realmente não consigo. É difícil ter motivação para escrever, ou para publicar o que se escreve, no atual momento.
Eu não sei se é só impressão minha, mas as coisas não vão bem, sob esse aspecto, em nenhum lugar, menos ainda por aqui. Existe uma espécie de paralisia, de estagnação, de hibernação, e os autores – cronistas, articulistas, críticos... – parece que não sabem como lidar com isso.
Hibernar, numa tradução própria, é o “nada a ver”, é o “não dá nada”, é o “cada um na sua”. Na hibernação, as pessoas ficam sem se interessar por nada, sem manifestar opinião (a não ser o trivial, o lugar-comum: o asfalto da Visconde, a Seleção de Futsal, o frio do inverno... – as tolas conversas de todos os dias...).
Eu até conversava com o Caboclo (que também havia parado de publicar) um dia desses, sobre a diferença que parece existir entre o atual momento e aquele em que a gente “se encontrou” escrevendo para os jornais locais há cerca de uns cinco anos, mais ou menos. Foi o tempo das caboclianas, das arnobianas (o Arnóbio também parou de publicar); tempo em que nós – todos mais ousados – arriscávamos mais, e a gente se cruzava semanalmente nos jornais, um dando amparo à exposição do outro.
Hoje – o que passou? – as crônicas rarearam, a ousadia diminuiu, a aventura se quedou lá atrás. Ficamos parados, discutindo “lugares comuns”, obviedades, esperando por mais um dia do nosso cotidiano de pandas, sem modificação, sem expectativas, e – que horror! – sem qualquer esperança.
Pois foi exatamente essa ausência de perspectiva, a desesperança, a falta de motivação que me motivou a escrever e a publicar novamente, se é que me entendem.
Até porque, da maneira como estão as coisas e do jeito como anda o tempo aí fora, tenho receio que o urso que habita em mim resolva também hibernar. E desta vez em definitivo.


(Crônica publicada originalmente no Jornal "A Evolução", em 15/07/2011)

3 comentários:

Solismar disse...

Caro...
Escrever é alimentar a alma.
Por favor, não deixe-a sem a doçura das palavras.
Um abraço.

Solismar.

Pedro Jaime Bittencourt Junior disse...

Grande Solismar,
mais uma vez obrigado pela presença e pelas palavras; a motivação do blog é a fidelidade dos seus leitores, especialmente os visitantes do "além Parapó", os que daqui sairam, mas se mantêm ligados na história - nas aventuras e desventuras desta incomparável paróquia mauá.
Abraço.

Guga Hernandes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.