

Para os casais de namorados, por exemplo, que só podiam namorar até determinada hora - quando chegava o momento em que cada um tinha que ir pra sua casa, podendo se ver somente no dia seguinte, afora algum eventual pulo de janela na madrugada -, o casamento chegava como algo novo: o momento em que mesmo terminando o dia a separação do casal não viria, ao menos teoricamente, é claro. E isto era bom e era ruim, dependendo do ângulo.
Já os casais de namorados de hoje, na sua grande maioria “dormem junto” desde muito cedo e aí passam o tempo todo lado a lado. Depois, quando decidem “casar” (precisa?), já não tem nada de novo pra oferecer um pro outro, e o casamento chega, assim, sem qualquer surpresa. E isto é bom e é ruim, também dependendo do ângulo.
Antigamente, eu lembro, a gente lia livros. Livros são aqueles objetos com capa e contracapa, com certa quantidade de folhas e alguma história dentro. Os livros possuem forma e cheiro; os livros têm textura e têm alma. E a literatura é, obviamente, uma arte, como o cinema, como a música, a poesia...
Pois hoje os livros perderam lugar para a internet, o cinema perdeu lugar para a televisão, a música perdeu lugar para o MP-5, para o MP-7 (sei lá em que número ‘ta, agora) e a poesia... bom, quanto a poesia a gente vai ter que fazer um cursinho pra lembrar melhor como era.
E de quem é o melhor tempo? De quem levava um mês lendo Sheakespeare, e outro para ler Cervantes; quem via Truffaut num semestre e Goddard no outro; quem escutava no rádio Noel, Pixinguinha, e ouvia a declamação de Neruda, de Drummond por auto-falantes? Ou de quem aperta apenas um botão agora e traz o mundo todo pra dentro de casa em menos de vinte segundos?
De quem é o melhor tempo, afinal? De quem levava meses, anos, para ser apresentado às novidades da “modernidade”, ou de quem está à poucos instantes de poder interferir ele mesmo na criação do novo? Hein, de quem é o melhor tempo?
Pois o melhor tempo, dá pra dizer, é todo o tempo em que se vive, e, como dizia o poeta - “O tempo de viver é toda a vida!”.
Por isso, a quem vive preso ao passado, a quem ainda insiste em parar (n)o tempo; levante, dê corda no relógio (do tempo), dê uma caminhada, vá até a esquina, até o bar, até uma praça; vá a um jogo de futebol, a um comício, a um show de música; faça o seu tempo, pois o melhor tempo ainda é hoje, com certeza é hoje, amigo, é hoje, ao menos até o dia de amanhã chegar...