sábado, 6 de junho de 2020

O OLHAR DO OUTRO

Diz o ensaísta Alberto Manguel, no prefácio do livro “O filho de mil homens”, obra do escritor português, nascido na Angola colonial, Walter Hugo Mãe, que, segundo conta a lenda, no Jardim do Éden, Adão e Eva só foram felizes porque sabiam quem verdadeiramente eram aos olhos de Deus. Entretanto, depois de morderem o fruto proibido, tornaram-se infelizes porque tiveram vergonha de perder essa identidade que lhes fora concedida pelos olhos do “Outro”. Isso talvez justifique – diz Manguel – “a antiga suspeita de que cada um de nós é um reflexo da visão do outro”, que existimos no olhar daqueles que conosco convivem. E a visão que o outro terá de nós, a vida ensina, estará sempre condicionada ao sabor das frutas mais ou menos ácidas, digamos assim, que decidirmos experimentar ao longo da nossa existência. Assim, costumamos olhar “o outro” pelos exemplos de grandeza, de lealdade ou de sabedoria que ele nos transmite. Ou, por lado diverso, pelas frustrações, pelos traumas e pelas decepções que as suas atitudes nos revelam. O que mais se vê é gente reclamando, e com razão, da falta de afeto e (para utilizar uma expressão da moda) de empatia entre as pessoas. Mas muitos dos que reclamam passam a vida inteira distribuindo balinhas azedas por onde circulam. Parafraseando o L. F. Veríssimo: a gente não é o que diz que é, a gente é o que faz, ou deixa de fazer. E é exatamente sobre o que fazemos ou que deixamos de fazer que vai se estender o olhar do outro. Um olhar que está, invariavelmente, a espreita do momento em que venhamos a sofrer a tentação de morder o fruto proibido. Porque um dia certamente todos nós haveremos de comê-lo. E quando isso acontecer, a nossa “verdadeira” identidade (o que realmente somos e não o que pensamos que somos) haverá de ser finalmente revelada. E então o nosso paraíso vai estar definitivamente ameaçado. Isso vale para os homens e para as mulheres comuns, para os juízes e para os ministros, para os heróis e para os ídolos, para os mitos e, mais ainda, para os falsos mitos. Todo modo, seja pela falta de autocrítica, por egoísmo, ou, simplesmente, por defesa, para cada de um nós será sempre mais conveniente cultivar a dúvida: afinal, fomos nós mesmos ou foi o olhar do outro quem nos expulsou do paraíso?
Arte: Ricardo Freitas (Donga) - 2003

terça-feira, 2 de junho de 2020

JORNAIS DO ARROIO GRANDE (I)

Relação dos jornais de Arroio Grande-RS, de 1896 até 2020
1) O Pampeiro (1896) – Diretor: Zeferino Pereira de Andrade.
(Primeiro jornal editado no Arroio Grande)
2) A Violeta (1897)*
3) O Patriota (1903)**
4) O Petit (1903) – Diretor-Gerente: Hermes Caldas – Administrador: Araripe Ribeiro - (Jornal Humorístico, com saída aos domingos)
5) Correio Popular (1904) – Diretor: José Cardona Duarte
6) O Popular (1906) – Diretor: Waldemar Caldas
7) Arroio-grandense (1907) – Diretor: Francisco Vinhas Júnior
8) O Progressista (1908) – Diretor: Cesarino Teixeira
9) A Nação (1913) – Diretor: Aurino Caraciolo Ribeiro
10) A Imprensa (1913) – Proprietário: Octaviano Silva; Gerente: Octacílio A. Silva; Redatores: Leonel Fagundes e Olindo Silva
11) O Metralhador (1914)***
12) O Xadrez (1914) – Responsável: Aimone Soares Carriconde - (Jornal de Confecção artesanal)
13) O Raio X (1915) – Sucede “O Xadrez” – Responsável: Aimone Soares Carriconde
14) Folha do Sul (1915) – Diretor: Aurino C. Ribeiro
15) O Cacete (1915)****
16) O Progresso (1915) – Propriedade: Rolim & Irmão
17) O Guarany (1916) – Sucede “O Raio X” – Responsável: Aimone Soares Carriconde
18) O Município (1918) – Diretor: Leonel Fagundes
19) Mauá (1923) – Diretores: Olindo Silva e Aymoré Carriconde
20) A Razão (1926) – Diretor: Aimone Soares Carriconde
21) O Mystério (1926) – Propriedade de Ribeiro & Comp.
(“Orgam Crítico, humorístico, litterario e noticioso”)
22) A Evolução (1933) – Fundador: Oscar Marinho Falcão
23) A Voz Escolar (1939)*****
24) Informações (1957) – Proprietário-Diretor-Gerente: Pe. Análio Pereira das Neves
(Jornal religioso, voltado às notícias da comunidade católica)
25) A Tribuna (1958) – Diretor Gerente: Ney Cavalheiro; Diretor Responsável: Fernando Martinelli; Diretor de Redação: Lauro Cavalheiro; Redatores: Aimone Soares Carriconde; Pedro Jayme Bittencourt; Sylvio Soares Carriconde
26) Jornal Contábil (1960) – Diretores: Pedro Jayme Bittencourt e Roberto Carlos Ferreira
27) Alvorada (1961) – Diretoras: Irene Ferreira e Maria Helena Salaberry
Jornal Estudantil vinculado a UAGES (União arroio-grandense de estudantes secundários)
28) A Luta (1962) – Diretor: João Fernandes Teixeira (Martha Rocha)
29) Hoje (1974)******
30) ABC (1975) – Diretor Responsável: José Paulo Gomes de Freitas; Diretor Substituto: Rui Quadrado Vitória; Editor: Neffton Paulo Araujo Góz
31) A Folha (1993) – Diretores: Victor Bretanha Hepp e Ana Izabel Bretanha Hepp
32) Correio Popular (1996) – Diretora: Rosa Maria Cunha
33) O Pontual (1996) – Diretora: Heloísa Antiqueira Machado
34) O Regional (1997) – Diretora: Rosemeri Melo Benites
35) Meridional (1999) – Diretor: Alexandre Ribas
36) Jornal da Cidade (2000) – Diretora: Fernanda Domingues
37) Correio do Sul (2005) – Diretora: Nara Joyce Araújo

Notas:
(1) Este ensaio, publicado em homenagem ao Dia da Imprensa, baseia-se, fundamentalmente, em três trabalhos elaborados sobre a imprensa escrita do Arroio Grande, sendo os seus realizadores:
a) Eduardo Henrique Paias Messon. Trabalho intitulado “Imprensa Escrita”, publicado, com adaptações, na Revista Tempos (Org. Flávia da Conceição Corrêa, Arroio Grande, 2004);
b) Júlio Heinzelmann Petersen, "Subsídios para a história da imprensa em Arroio Grande", publicado em Trinta dias de cultura, Instituto Estadual do Livro, de Porto Alegre, números 34 e 35, ano de 1991.
c) “A Evolução”. Conforme relação de jornais publicada na edição de 20 de setembro de 1969, com o título "A Imprensa".
(2) Os jornais “A Violeta” (1897), “O Patriota” (1903), “O Metralhador” (1914), “O Cacete” (1915), “A Voz Escolar” (1939) e “Hoje” (1974), identificados com asteriscos, são citados por Júlio Heinzelmann Petersen como os únicos faltantes para ele concluir “um excelente artigo sobre os 54 jornais (sic) surgidos em Arroio Grande até esta data (1896/Maio-01 a 2001/Novembro-06)”, conforme Carta dirigida pelo pesquisador à Profª Flávia da Conceição Corrêa, datada de 6 de novembro de 2001. Júlio H. Petersen faleceu em 09.12.2002, na capital do Estado, onde residia.
(3) Serão mencionados os diretores fundadores de cada publicação, sendo que muitos periódicos tiveram diversos responsáveis ao longo das suas edições.
(4) A pretensão deste ensaio é deixar um registro, na forma mais ampla possível, da história da imprensa escrita no Arroio Grande, com a devida atualização. Portanto, qualquer contribuição, na forma de acréscimo ou de correção a publicação, será bem-vinda.
(5) Não se desconhece, por óbvio, a importância de outros veículos de imprensa local, especialmente as atuais Rádio Difusora e Rádio Studio FM, também merecedoras de homenagens no “Dia da Imprensa” (1º de junho). Entretanto, este ensaio optou por abordar, neste momento, exclusivamente a existência dos jornais de Arroio Grande, que, no dizer do pesquisador Júlio Petersen, ultrapassaram a meia centena em nossa cidade, desde a fundação de “O Pampeiro”, em 1896.

JORNAIS DO ARROIO GRANDE (II)

Vinte capas dos jornais locais
Os exemplares aqui utilizados são, todos eles, ou da coleção pessoal do autor deste ensaio, ou pertencentes ao acervo da Profª Flávia da Conceição Corrêa.