sexta-feira, 18 de agosto de 2017

PROVOCAÇÃO (I)


(Para o Arnóbio, para o Sérgio Canhada, para a Carla Hernandez e para os demais membros do Grupo “Defensores do Patrimônio Histórico e Cultural do Arroio Grande”)

Sempre se disse, ou sempre se ouviu dizer, que as primeiras fotografias conhecidas do Arroio Grande, um conjunto de pouco mais de meia dúzia de imagens – duas da Igreja Matriz; duas da rua principal no sentido Sul–Norte, uma delas mostrando homens em frente a um armazém no encontro entre as atuais Rua Dr. Monteiro e Rua Dionísio de Magalhães; duas da atual Rua Dr Monteiro no sentido Norte-Sul, uma delas mostrando o imponente prédio que ficaria conhecido como a “Pharmácia Maciel”; e, finalmente, duas da atual Av. Visconde de Mauá no sentido oeste-leste, mostrando o prédio comercial que se tornaria a “Casa São Paulo”, no esquina com a atual Rua Dr. Monteiro –, pois sempre se falou que essas fotografias são datadas do final do Século XIX ou do início do Século XX, mas sem qualquer precisão acerca da data das imagens.
Muito se especulou também sobre a autoria de tais fotografias, algo incomum por aqui há 120 anos, nesta quase esquecida zona de fronteira onde estava se constituindo o Arroio Grande.
Por outro lado, também sempre se ouviu dizer que essas primeiras imagens, dos prédios então "modernos" do Arroio Grande, foram produzidas por um fotógrafo profissional que, em período impreciso, teria se aventurado a fotografar algumas cidades da região, entre elas Jaguarão, Herval e Arroio Grande, com a finalidade de expor as imagens desses municípios.
Pois agora, um trabalho do pesquisador Adão Monquelat, intitulado “O fotógrafo Augusto Amorety em Pelotas”1, lança algumas luzes sobre a obra do artista fotográfico Amorety, que manteve um renomado estúdio em Pelotas por mais de 25 anos, entre 1876 e 1902, quando o atelier teve as portas fechadas, ao que se sabe em definitivo.
O trabalho de Monquelat não faz qualquer referência a passagem de Amorety pelo Arroio Grande, se é que ela realmente ocorreu, mas deixa uma pista ao dizer que o “conceituado profissional” teve, em 4 de julho de 1901, a sua galeria “aumentada com a bela coleção de fotografias com que aquele fotógrafo concorrera à Exposição Estadual”.
Ora, sabendo-se que os prédios que aparecem nas primeiras fotografias conhecidas do Arroio Grande – correspondentes à “Casa São Paulo”, à “Pharmácia Maciel” e ao “Café Central”, entre outros – foram erguidos próximo a 18802, e que o fotógrafo Amorety percorreu parte do Estado antes de fechar as portas do seu estúdio em 1902, tendo antes concorrido em uma “Exposição de Fotografias” a nível estadual, provavelmente em 1901, é possível supor-se que esse "primeiro retrato" da Cidade tenha sido captado por aquele profissional (se é que foi realmente ele o autor das imagens3) exatamente na virada do Século XIX para o Século XX, ou seja, entre 1890 e 1900.
Isto pode não ser exato, mas, como se disse, é uma luz para os pesquisadores e historiadores da Cidade que ficam, desde agora, provocados a responder a essas duas questões: 1º) quem foi o autor do conjunto das primeiras imagens conhecidas do Arroio Grande? 2º) quando (em que ano) elas foram exatamente produzidas?
Com a palavra, os especialistas.

1 - Publicado no jornal Diário da Manhã, de Pelotas, edições conjuntas de 23/24 de janeiro e 30/31 de janeiro de 2016.
2 - Curiosamente, a edificação conhecida como “Sobrado dos Lisboa”, um dos símbolos da Cidade, cuja construção data de 1864, não aparece (?) nesse “primeiro conjunto” de fotografias dos prédios do Arroio Grande.
3 - Sérgio Canhada tem outra hipótese: a de que seria Afonso Carlos Amorety, irmão de Augusto, o autor das imagens. Tal suposição vem do fato de que Afonso, também fotógrafo, contraiu matrimônio com “uma Souza Gusmão” (descendente do), em Arroio Grande, por volta de 1880, tendo se dedicado, então, a fotografar os principais prédios da Cidade.
* Créditos das fotografias: Acervo do autor, Profª Flávia Corrêa, Dr. Sérgio Canhada, não necessariamente na ordem em que serão expostas.