quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
POESIAS DO PEDRO ...
POESIA
(Pedro Jaime Bittencourt)
Um só segundo
De poesia
Inunda o mundo
Dessa alegria
Que inexistia
Antes do amor...
Pois só quem ama
Transforma a dor
Numa canção;
Transforma em chama
A noite fria
Da solidão!
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A VELHA MESA DO CANTO
(Pedro Jaime Bittencourt)
Até no menor dos bares,
Nos mais diversos lugares
Em qualquer parte do mundo.
Que irresistível encanto,
Que magia, que atração,
Que fascínio tão profundo
Exerce a simples presença
Da velha mesa do canto
Bem ao lado do balcão!...
Suas pernas bambas, cansadas,
Outrora fortes e tensas,
Agora já estão pesadas,
E mesmo assim sustentando
Em equilíbrio precário
Num milagre extraordinário
A superfície já gasta,
Mas ninguém sabe até quando
Ela é a mesa preferida
De quem vai em pós da vida
No barzinho suburbano...
Na toalha – pedaço velho de pano
Que o uso já desbotou
Há milhões de cicatrizes
Que a própria vida deixou...
Há assinaturas tristonhas,
Queimaduras de cigarros,
Caricaturas e imagens,
Os desenhos mais bizarros
Tentativas de paisagens,
Caretas inteligíveis
Algumas frases bisonhas
Outras quase felizes;
Há referências ao sexo,
Palavras sem qualquer nexo
E a maioria ilegíveis...
Em cada noite que passa
Tilintam copos e taças,
Há gargalhadas e há pranto,
Há fealdade e beleza,
Há mentiras e verdades,
Há sentimentos urgentes,
Esquecimentos, saudades,
Na velha mesa do canto...
São pessoas diferentes
Que lá chegam diariamente
E sentam na mesma mesa
Na solidão desse canto
Bem ao lado do balcão..
Gente boa, gente ruim
Já sentou naquela mesa
Já gargalhou de alegria
Já chorou ouvindo um não...
Ali tombaram palavras
De irremediável tristeza
Que ninguém ergueu do chão...
Sonhos e fantasias
Ali viraram histórias
Com finais cheios de pranto...
O que a todos parecia
Felicidade, alegria,
Era mágoa e solidão...
Diferente das demais,
Ancorada no seu canto
Como um navio no cais,
Como um gesto de ternura,
Como um sonho que perdura
Lá no fundo da memória,
A velha mesa do canto
Ninguém esquece jamais...
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O ÚLTIMO BAR*
(Pedro Jaime Bittencourt)
Quando fechar o último bar
Não haverá mais mesas nas calçadas
Nem moças despreocupadas
Sorrindo com seu olhar;
Quando fechar o último bar
Não haverá mais nada para fechar...
Na calçada abandonada
Um bêbado e um seresteiro
Vão ser decerto os primeiros
A sofrer e a silenciar.
E o tempo absorto e mudo
Verá que o silêncio é tudo
Que restou daquele bar.
Quando fechar o último bar
Eu não quero estar presente
No meio de tanta gente
Que não terá mais lugar
Para rir, para chorar...
Não quero ver a menina
Com os seios debruçados
Exatamente na esquina
Onde moram meus pecados
Nem a mulher que passa
Naquele estado de graça
Que nos faz dizer amém...
Quando fechar o último bar
Eu quero fechar também...
(*) do “Velho” Pedro Bittencourt, que garantia ter aprendido mais nos bares do que nos escritórios ou nos tribunais. E olha que ele entendia de Direito como poucos, mas sabia da vida como quase ninguém...
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QUANDO O CÉU PERDE O AZUL*
(Pedro Jaime Bittencourt)
Os silêncios mais profundos
Os mais sonoros do mundo
Cantam por toda a praia
Quando termina o verão.
Quando anoitecem os sonhos
A chuva volta e encharca
As ruas abandonadas,
E mulheres e andorinhas
Deixam a praia sozinha
Deixam a areia sem marcas...
Quando o céu perde o azul
E as sombras tombam no chão
Quase morrendo de sono;
Quando bate o vento sul
E a sensação do abandono
Toma conta do balneário,
Parece que tudo muda
E algo de extraordinário
Em cada fim de verão,
Fica lá dentro dos olhos,
No desconsolo das mãos,
Fica escondido no fundo
Mais fundo do coração...
É sempre o vento gelado
Que esvazia cada rua;
São os pássaros tristonhos
Que num gesto inconformado
Recolhem suas pobres asas
Que não mais podem voar...
É o mar batendo nas casas
A nuvem branca branqueando
O branco perfil da lua...
São os últimos casais
Trocando beijos e flores...
É a espuma clara do mar,
Um que outro passo na areia,
São redes de pescadores
Que sonham com as sereias...
Quando termina o verão,
Segundo a maledicência,
Só se encontram no balcão
Algum bêbado, algum louco,
Algum boêmio andarilho
Que anda fora dos trilhos;
Quem vai pela contramão,
Quem detesta a linha reta,
Quem sabe que ser poeta
É jamais ser entendido...
Quem não sendo dono de nada
É dono da solidão...
Quando termina o verão
E a praia deserta chora
Envolvida num adeus,
Ficam os copos vazios
Os olhos cheios de frio
Corações sem arrepios,
Sem carícias, sem ninguém...
Quando termina o verão
E já não chega ninguém,
Ficam eles, fico eu,
Fica a saudade que chora,
Fica a saudade que agora
Esmaga o meu coração...
Quando termina o verão
Eu me termino também...
(*) do poeta Pedro, num final de verão no Hermenegildo, como este de agora, como tantos, como sempre...
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