quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

BORGES E O PRESENTE PROMETIDO




(The unending gift)

"Um pintor nos prometeu um quadro,
Agora, em Nova Inglaterra, soube que ele morreu.
Senti, como em outras ocasiões, a tristeza de compreender
que somos como um sonho.
Pensei no homem e no quadro perdidos
(Somente os deuses podem prometer, porque são imortais)
Pensei em um lugar pré-fixado que a tela
não ocupará
Pensei depois: se o quadro estivesse ali, seria,
Com o passar do tempo, uma coisa a mais, uma das vaidades ou hábitos da (minha) casa;
Agora é ilimitada, incessante, capaz de qualquer forma e qualquer cor e a ninguém vinculada.
Existe de algum modo. Viverá e crescerá como uma música e estará comigo até o fim.
Obrigado, Jorge Larco.
(Também os homens podem prometer, porque na promessa existe algo de imortal.)".
(De Elogio da Sombra - 1969)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

"VOCÊ ENTROU NO TREM E EU NA ESTAÇÃO..."


As antigas estações de trem ainda inspiram os mais variados sentimentos, de saudade, de paixão, de abandono, como na canção composta pela Adriana Calcanhoto, que empresta o título para este texto.
Nesta nossa região, o Trem serviu como meio de transporte de passageiros especialmente nas décadas de 50 e 60 (passando pelas Estações da Ayrosa Galvão e pela Estação Mauá, entre outras) e até fins dos anos 70 quando ainda operavam as Estações do Cerrito e de Pedro Osório, levando o trem que saía de Pelotas e seguia para Bagé, como aparece na conhecida Maria Fumaça dos irmãos Kleiton e Kedir.
No início da minha juventude, quando era estudante em Pelotas, cheguei a pegar o tal Trem lá na Estação do Bairro Simões Lopes, de onde ia até Pedro Osório, viajando às 6 da manhã, saindo direto de algum bar ou boate sem nem mesmo dormir, com direito a violão e cerveja dentro da Maria Fumaça, na companhia do Zeca do Valentim, do Darcy do Lino, do Baixinho do Assis e outros do Arroio Grande.
Depois do Passo das Pedras e do Cerrito acontecia a chegada em Pedro Osório; então, o negócio era dar uma passadinha no Hotel do Tio Willy para conseguir alguma "bóia", antes de ir para a "faixa" pegar uma carona final até o Arroio Grande.
Pois a foto aí de cima é da Estação de Pedras Altas, situada em frente ao famoso Castelo do Assis Brasil, e dá mesmo uma sensação de saudade e de abandono; a sensação de que a gente ainda está ali esperando o trem, que infelizmente já não vem mais.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O LUGAR E A SUA HISTÓRIA (II) O FAROL DA PONTA ALEGRE








Por ocasião da Cavalgada Cultural empreendida pelo Grupo “Lanceiros de Mauá” até a região da Ponta Alegre em dezembro último, o advogado e estudioso da história local Sérgio Canhada acabou publicando um trabalho de Memória do Farol da Ponta AlegreI, no ano de seu centenário, posto que o Farol foi oficialmente inaugurado em 1908. Esta crônica é baseada em alguns dados históricos que constam do trabalho do Sérgio, a quem pedi licença para copiar, muito embora até hoje, diga-se de passagem, continue aguardando pela sua “formal” autorização.
Mas, renitências à parte, vamos aos dados que interessam.
Preocupado com o crescimento da navegação na Lagoa Mirim na metade do Século XIX (para se ter uma idéia, entre fins de 1859 e meados de 1860, só o vapor Rio Grandense fez 22 viagens de Rio Grande para Jaguarão...), o Governo da Província encarregou, já em 1857, o Barão de Caçapava de emitir parecer sobre quantos e quais faróis se deveriam erguer na Lagoa Mirim, com o objetivo de avisar aos navegadores da proximidade com a porção de terra, a fim de evitar riscos às embarcações, especialmente à noite.
Concluído o estudo, chegou-se a cogitar da construção de até três faróis – “um na Ponta Alegre, outro na baliza do Juncal, e outro na ponta de S. Thiago”II -; todavia, por falta de recursos do Governo Imperial, e mesmo pela incidência da Guerra do Paraguai (1864 a 1870), os projetos ficariam paralisados até o início do Século XX, quando, em data ainda imprecisa, iniciaram-se as obras do Farol da Ponta Alegre.
Depois de pronta a torre, foi o Farol da Ponta Alegre inaugurado em 20 de setembro de 1908, conforme consta de notícia veiculada no Jornal Correio do PovoIII“Foi inaugurado, no dia 20 do corrente, um pharol de 5ª ordem com torre quadrangular de alvenaria, de 16 metros de altura acima do solo e 17 acima do nível das águas, 1.000 metros ao SW da Ponta Alegre, na Lagoa Mirim. Sua luz é branca, fixa, visível a 12 milhas, com tempo claro. A torre é pintada de branco, bem como as duas casas dos pharoleiros que lhe ficam juntas”.
Desde então, o Farol, emitindo lampejos com intervalos de 6 segundos, passou a orientar a navegação noturna, “até por volta dos anos 50, quando foi desativado definitivamente”. IV
Segundo o navegador jaguarense Décio Vaz Emygdio, “O Farol da Ponta Alegre é o símbolo da Lagoa Mirim, mesmo desativado serve como ponto de referência, principalmente para os barcos que navegam do sul para o norte, que o avistam a uma distância de 8 milhas”.V
O mesmo narrador inclui em sua obra sobre a Lagoa Mirim o naufrágio do Navio Rio Grande ocorrido na fria madrugada de 1° para 2 de setembro de 1938, em meio a um enorme temporal, a cerca de 500 metros do Farol da Ponta Alegre.VI
Histórias de naufrágios, de encalhes, de ‘raides’, de faróis e de faroleiros de há muito habitam o imaginário coletivo que cerca a Lagoa Mirim; para nós, entretanto, acima das aventuras que possa ter iluminado, é o Farol da Ponta Alegre um símbolo do nosso Município, o emblema de uma história que os arroio-grandenses não deverão nunca permitir que naufrague.
I – O Farol da Ponta Alegre no seu centenário – Memória – Sérgio A. Silveira Canhada – 2008;
II – Relatório do Presidente da Província – 1859;
III – Correio do Povo (Porto Alegre, 30.9.1908);
IV – Lagoa Mirim, um Paraíso Ecológico – Décio Vaz Emygdio - 2000;
V – Idem, pág. 98 VI – Ibidem, pág. 100

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

O LUGAR E A SUA HISTÓRIA (I) O arroio Grande













Entre os lugares mais emblemáticos do Arroio Grande existem dois que têm muito a ver com o nosso verão, não obstante presentes o tempo todo na vida e no imaginário dos arroio-grandenses.
Um deles, o arroio Grande; o outro, o Farol da Ponta Alegre, ambos de extremo simbolismo para o nosso município.
Vou aproveitar este início de janeiro para falar um pouco da história desses dois lugares, começando pelo arroio Grande.
Originado da junção de diversas sangas que se avolumam à medida que se aproximam dos cerros de São João do Herval, o arroio Grande nasce numa serra (mais precisamente num charco existente ao Sul da Coxilha da Tuna)[1] próxima à cidade do Herval, a uma altitude aproximada de 280 metros.
Depois de percorrer 36,7 milhas em curso extremamente sinuoso e irregular, deságua no Sangradouro da Lagoa Mirim, na latitude 32°20’36” S e longitude 52°47’10” W, onde há uma estaca quadrada marcando sua barra. Desemboca na ponta de uma península 3,5 milhas a noroeste da Ponta Alegre, próximo ao local conhecido como Pontal, no 3° Sub-Distrito do Município que leva o seu nome. Na barra, apresenta profundidade mínima de 1,90 m.
Possui matos em ambas as margens, intercalados com barrancas limpas e baixas. É chamado de arroio Grande, porque está no limite de tamanho entre o arroio e o rio. Dizem alguns que por pouco não foi chamado de Rio Pequeno.[2] Também consta da cartografia pátria possa ter sido conhecido, em determinada época, como Rio dos Tapes[3] (Tapes = lugar dos caminhos); entretanto, tal denominação pode ter sido dada ao arroio Chasqueiro, sendo o mapa referenciado impreciso nesse sentido. Tem como principais afluentes da margem esquerda, os arroios: das Capoeiras, Esmerlinda, Pitangueira, Arachanes e Sanga do Corrente.[4] Na margem direita, o Teapuí (Capuí) e o arroio das Pedras (onde fica o Passo do Simão, citado por alguns também como arroio Simão[5], isto é, com nomenclatura própria).
Comentam os navegadores que a navegação de maior porte no arroio Grande é interrompida a poucas milhas de sua foz por uma rede elétrica que atravessa seu leito. - “Não fora isso, poderia se navegar, com boa profundidade e largura, ainda por várias milhas”[6] – diz o jaguarense Décio Vaz Emygdio, acostumado a velejar pela região.
Os habitantes da cidade a qual ele dá o nome acostumaram-se a utilizar as águas do arroio Grande, própria para banhos, assim como também as suas margens para jogos e divertimento, especialmente na presente estação. Desde a chamada “Ilha dos Bancários” e à Hidráulica, ambas a oeste da zona central, passando pelo atual “Balneário da Ponte”, localizado junto à Ponte Carlos Barbosa – que fazia a antiga ligação com a estrada que levava ao Município de Jaguarão – e pelas diversas propriedades rurais da localidade (a Instalação, os Conceição, também o antigo Porto do arroio Grande...), até desembocar na Lagoa Mirim, próximo à Praia do Pontal, atual expoente de recreação e lazer do Município.
Como descrito pelo escritor Paulo Squeff Conceição, em crônica recente: “Andei por águas de boa parte deste mundo. De fato, os banhos do arroio Grande não são grandiosos como os da Polinésia e do Caribe, mas que o tempo em que os vivi foi o mais feliz da minha vida, foi”.[7]
E assim tem sido para todos que têm a felicidade de conhecer as suas águas, as águas de um grande arroio, as águas do arroio Grande.
[1] - História de Herval – Manoel da Costa Medeiros - 1980
[2] - Lagoa Mirim, Um Paraíso Ecológico – Décio Vaz Emygdio - 2000
[3] - Mapa de 1798 – Gab. Cartográphico do Estado Maior do Exército – Rio - 1936
[4] - História do Herval – Manoel da Costa Medeiros - 1980
[5] - Município de Arroio Grande – Álvaro O. Caetano - 1945
[6] - Lagoa Mirim, Um Paraíso Ecológico – Décio Vaz Emygdio - 2000
[7] - 13,5 Lugares do Arroio Grande e outras referências – Diversos autores - 2008

domingo, 4 de janeiro de 2009

UM CASTELO NO PAMPA*















Confirmada a previsão de tempo nublado para sábado em pleno 03 de janeiro, resolvemos, a Verônica e eu, fazer uma visita ao Castelo de Assis Brasil, uma construção no estilo dos castelos europeus situada no Município de Pedras Altas, distante 48 Km. de Herval, e, consequentemente, a cerca de 100 Km. de Arroio Grande.
Convidado o Sérgio Canhada, partimos para o Castelo, não sem antes agendar(1) por telefone a visita, para ter acesso as dependências internas(2) do prédio, pelo que é necessário pagar(3).
Para quem não conhece, até Herval é asfalto, mas os 48 kms. seguintes até Pedras Altas são de estrada de terra; estrada boa, de chão duro e sem nenhum perigo, não obstante a altitude, já que no trajeto situa-se um dos pontos mais altos da região.
Já para quem vem da região de Porto Alegre, ou mesmo de Pelotas, melhor caminho é por Pinheiro Machado (BR 293), para depois percorrer 36 Km., também por terra, até Pedras Altas.
Sobre Assis Brasil(4) existem muitas obras e inúmeras informações em sites da internet, assim como sobre o Castelo(5), razão pelas quais deixo de reproduzir maiores dados aqui, apenas reafirmando a impressão de todos que visitam o lugar.
Embora a rusticidade e a simplicidade do lugar, que não tem nem de perto o glamour dos castelos da Europa, a visita vale a pena mesmo pelo seu simbolismo e pela figura de Assis Brasil - ambos participantes de grande episódios do Rio Grande e do Brasil (do final do Sec. XIX ao início do Séc. XX) - contendo a Casa da Granja de Pedras Altas inúmeros documentos, fotografias e objetos que nos levam a viajar no tempo e conhecer um pouco mais da nossa história, uma história testemunhada por um Castelo em pleno Pampa Gaúcho.
(*) Um Castelo no Pampa é o título do livro do escritor Luís Antônio Assis Brasil, uma ótima definição para o lugar;
1. Agendamento pelo telefone (53) 36130099, com Lydia, neta de Assis Brasil;
2. Todo o primeiro andar: salão, biblioteca, quarto do casal, sala de estar, cozinha e outros aposentos; o andar superior está em reformas;
3. Apesar de necessário para a preservação do local, o preço individual atual é bastante "salgado": R$ 18,00; para grandes grupos, especialmente escolares o preço é de R$ 5,00 por pessoa;
4. Joaquim Francisco de Assis Brasil nasceu em 1858 em São Gabriel e morreu em 1938, em Pedras Altas. Advogado, político e escritor, foi ministro da república e embaixador do Brasil na Argentina, em Portugal e nos EUA; foi ainda deputado federal por mais de uma ocasião. No Rio Grande, foi um dos principais opositores a Borges de Medeiros e um dos protagonistas da Revolução de 23. É histórica a fotografia onde assisistas (maragatos) e borgistas (antigos pica-paus castilhistas) assinam o Tratado de Paz em pleno Salão do Castelo de Pedras Altas. Os móveis da ocasião ainda se encontram no local.
5. Construído a partir de 1908, o Castelo somente foi concluído em 1913, estando próximo de comemorar o seu centenário.